domingo, 30 de dezembro de 2012

Pergunta ao Governo sobre Pousada da Juventude


Pergunta ao Governo N.º 802/XII/2
Encerramento das Pousadas da Juventude de Abrantes, Alijó, Braga, Foz do Cávado, Navio Gil Eanes, Ovar, Ponte de Lima, S. Martinho do Porto, S. Pedro do Sul, Alcoutim, Aljezur, Almograve, Alvados, Espinho, Lousã, Melgaço

Sexta 21 de Dezembro de 2012
 
O Ministro dos Assuntos Parlamentares Miguel Relvas anunciou em Agosto a decisão de privatização das Pousadas da Juventude. Em Setembro o PCP dirigiu uma pergunta ao Governo sobre o fundamento da privatização destes equipamentos por entender colocar em causa a sua missão específica, a sua qualidade e os preços praticados. Na resposta o Governo afirmou que estaria a “avaliar Pousada a Pousada tendo em vista a sua viabilidade económico-financeira, nunca esquecendo a sua função social de potenciar a mobilidade dos jovens (nacionais e estrangeiros) no nosso país”.

De acordo com o Decreto-Lei nº98/2011, de 21 de Setembro, que cria o Instituto Português do Desporto e Juventude, de entre as diversas atribuições na área do desporto e da juventude, inclui-se a “mobilidade dos jovens, promovendo a construção de infra-estruturas de alojamento e dinamizando, em particular, a rede nacional de pousadas de juventude, segundo critérios de racionalidade geográfica e demográfica, bem como de eficiência económica” (alínea h), do nº3, do artigo 4º do presente decreto-lei).
Contudo, o encerramento das Pousadas de Juventude de Leiria, Guarda, Portalegre, Setúbal e Vila Real é da maior gravidade para os direitos da juventude, designadamente o direito ao lazer e à mobilidade, mas representa também mais uma política de promoção do desemprego, desinvestimento público, destruição de serviços públicos e de aprofundamento da desertificação do interior do país. Se estas pousadas não tinham as condições materiais adequadas, deveriam ser dotadas de tais equipamentos e não encerradas deliberadamente. As pousadas de Portalegre, Guarda e Vila Real e Leiria desempenhavam um papel determinante como instrumentos de coesão social e territorial, para além de constituírem factores de desenvolvimento económico e social para estes distritos.
 

Agora vem o Governo anunciar o objectivo de encerramento das pousadas de juventude de Abrantes, Alijó, Braga, Foz do Cávado, Navio Gil Eanes, Ovar, Ponte de Lima, S. Martinho do Porto, S. Pedro do Sul, Alcoutim, Aljezur, Almograve, Alvados, Espinho, Lousã, Melgaço. O objectivo de encerramento destas 14 pousadas e a aplicação do lay-off aos trabalhadores é da maior gravidade, e com impactos económicos e sociais muito negativos para a vida destas pessoas e a economia regional.
 
A MOVIJOVEM é uma cooperativa com capital maioritariamente público, 80% detido pelo IDPJ, pelo que se podem levantar dúvidas sobre a legalidade da aplicação do lay-off a estes trabalhadores. Para além disso, não existe qualquer garantia da parte do Governo de reabertura destas unidades a 15 de Março de 2013 sem prejuízo e de acordo com as condições contratuais e manutenção dos direitos dos trabalhadores.
 
Os trabalhadores da Movijovem têm sido confrontados com a retirada do subsídio de férias e de Natal, o fim do direito à integração das diuturnidades no salário, do seguro de saúde e, por consequência, a redução dos seus salários reais e condições de trabalho estável e digno.
Grande parte destes trabalhadores são jovens, e para além deste desrespeito pelos seus direitos fundamentais, o Governo PSD/CDS pretende ir mais longe e aprofundar o processo de liquidação da Rede Nacional de Pousadas, estando mesmo já constituída para o efeito a “Comissão Liquidatária da Movijovem” com o objectivo de encerramento de todas as instalações que tenham dado prejuízo, de acordo com informações saídas da reunião com a estrutura representante dos trabalhadores, designadamente a Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (FESAHT) da CGTP-IN.
 
Este processo de encerramento está a ser desenvolvido de forma unilateral, com a perspectiva de destruição de postos de trabalho e desrespeito pelos direitos dos trabalhadores. Este processo é mais um exemplo de como o Governo é responsável directo pelo agravamento do desemprego e pela destruição líquida de postos de trabalho.
O PCP acompanha as reivindicações dos trabalhadores e das suas entidades representativas, designadamente:
1. Fim imediato do processo de liquidação em curso;
2. Tomada de medidas urgentes de viabilização da Movijovem com garantia de;
1. Manutenção dos postos de trabalho e dos direitos dos trabalhadores;
2. Continuidade da prestação dos serviços inerentes à Movijovem;
3.Suspender o processo de encerramento das pousadas e da aplicação do lay-off aos trabalhadores;
4. Devolução imediata do valor retirado aos subsídios dos trabalhadores;
5. Reiniciar a negociação do Acordo de Empresa.
 
O PCP considera inaceitável a decisão de encerramento destas unidades. Para a JCP e o PCP é determinante a manutenção destas Pousadas de Juventude, integradas na rede nacional de pousadas de juventude, a salvaguarda dos postos de trabalho, o respeito pelos direitos dos trabalhadores e a sua integração nos quadros da Administração Pública, considerando que o Instituto Português do Desporto e Juventude tem a atribuição da mobilidade juvenil.
 
É inaceitável que o Governo PSD/CDS justifique estes encerramentos com critérios de “sustentabilidade financeira e endividamento” incumprindo as suas competências específicas no artigo 70º e a garantia dos direitos da juventude, designadamente no “aproveitamento dos tempos livres”. Pese embora ao longo dos últimos anos, sucessivos Governos PS, PSD e CDS têm promovido uma política de preços desajustada, encarecendo e colocando muito próximo dos preços praticados pelas unidades hoteleiras, a rede nacional de Pousadas da Juventude constitui uma das melhores redes de pousadas juvenis da Europa e representava até há pouco um serviço público de qualidade e um instrumento efectivo de concretização dos direitos da juventude, consagrados na Constituição da República Portuguesa.
 
Assim, ao abrigo das disposições regimentais e constitucionais aplicáveis, solicita-se ao Governo que por intermédio do Ministério dos Assuntos Parlamentares, sejam respondidas as seguintes perguntas:
1.Confirma o Governo o objectivo de encerramento das Pousadas da Juventude de Abrantes, Alijó, Braga, Foz do Cávado, Navio Gil Eanes, Ovar, Ponte de Lima, S. Martinho do Porto, S. Pedro do Sul, Alcoutim, Aljezur, Almograve, Alvados, Espinho, Lousã, Melgaço?
2. Com que fundamento e base legal se aplica o lay-off a estes trabalhadores?
 
3.Que resposta dará o Governo às reivindicações dos trabalhadores, designadamente quanto ao fim imediato do processo de liquidação em curso, e a tomada de medidas urgentes de viabilização da Movijovem com garantia de manutenção dos postos de trabalho e dos direitos dos trabalhadores; suspender o processo de encerramento das pousadas e da aplicação do lay-off aos trabalhadores; devolução imediata do valor retirado aos subsídios dos trabalhadores; e reiniciar a negociação do Acordo de Empresa?
 
4.Reconhece o Governo que a não dar resposta a estas reivindicações dos trabalhadores é responsável pelo agravamento do desemprego e da crise económica e social?


domingo, 23 de dezembro de 2012

Os Comunistas na Assembleia Municipal

 

Os Comunistas na Assembleia Municipal

Sessão Ordinária de 22 de Dezembro de 2012

João Gomes (Noas) abordou o plano de actividades e orçamento do município para o ano de 2013, destacando: giramos à volta dos mesmos projectos de ano a ano que revela a inercia da planificação de gestão do município de Ponte de Lima em encontrar outros caminhos que conduzam a outro rumo e a outra política autárquica que visem empreendimentos de projectos de grande escala estruturante para o desenvolvimento económico e social do Concelho. Os projectos que nos são apresentados só avançarão se tiverem financiamento comunitário garantido, por isso de ano a ano mantem-se a maior parte dos projectos a concretizar.
Na contribuição participativa para a elaboração deste orçamento sugerimos e propusemos importantes aspectos que a serem seguidos contribuiriam grandemente para uma política de gestão autárquica harmoniosa para o desenvolvimento do Concelho.

Quem tem disponibilizado 690.000.00€ (seiscentos e noventa mil euros) para a aquisição de terrenos dos quais durante vinte anos não pode usufruir na sua plenitude. Tem naturalmente verbas suficientes para por exemplo adquirir a curto prazo Miniautocarros, não poluentes, para fazer a ligação entre as várias artérias da Vila e a Central de Camionagem, para trazer as pessoas ao encontro do comércio tradicional como um meio importante de apoio à sua revitalização; O argumento do município de que não é despesista, não nos convence.

É imperioso que o município abandone a apetência por obras com implantação de muita pedra que são em dias invernais, mantos de águas que alagam as ruas da Vila. É hora da acção do município virar a gestão autárquica para projectos estruturantes prioritários para o desenvolvimento económico e social do Concelho.


Considerou ainda a necessidade de a Implementação de Um Projecto para solucionar o problema da desertificação do concelho quer no centro histórico da Vila quer ao nível das freguesias mais rurais implementando as medidas necessárias para iniciar a requalificação da zona urbana, nomeadamente na recuperação do edificado;
(Continuamos a pugnar que o projecto ponte de lima uma Vila a proteger e a reabilitar deve ser considerado como prioridade fundamental. O Município tem os mecanismos criados para poder liderar este processo que tenha em conta uma solução de nível local, conjuntamente com os proprietários do edificado do Centro Histórico, aonde poderão estar Sociedades de Reabilitação Urbana)

Nos assuntos de interesse para o município, enquadrou o problema do aumento do desemprego no Concelho e a importância dos ENVC – Estaleiros Navais de Viana do Castelo como empresa pública, e estrutura âncora do desenvolvimento da região, empresa vital para assegurar os postos de trabalho directos e indirectos e a economia da Região.
Tendo referido ainda que, na verdade, o processo de reprivatização dos Estaleiros Navais é um crime. Um crime contra os trabalhadores e as populações, um crime contra a região, um crime contra o país. E esse crime tem responsáveis: o PS, o PSD e o CDS, que figurarão na História como os coveiros dos Estaleiros de Viana. Mas esse crime vai ter beneficiário: o capital, que a preço de saldo vai ficar com uma das empresas de construção naval mais prestigiadas do mundo.
Como exigem os trabalhadores e todos aqueles que defendem a continuidade desta empresa nas mãos do estado, este processo de privatização dos ENVC, empresa estratégica para o país, tem que ser derrotado, assim como foi o processo da TAP.
Ler intervenções completas em: Os Comunistas na assembleia municipal


Sandra Margarida Fernandes apresentou e fundamentou as sugestões sobre procedimentos no processo de selecção dos concursos das AECs – Actividades de Enriquecimento Curricular”

Existe um conjunto de professores a prestar serviço nas chamadas “Actividades de Enriquecimento Curricular”, todos sem qualquer garantia de estabilidade ou de acesso aos direitos assegurados pelo Estatuto da Carreira Docente. Ou seja, embora exista um significativo conjunto de necessidades permanentes no sistema educativo, quer seja considerado ao nível de escola, agrupamento ou mesmo regional, essas necessidades não dão lugar à necessária expectável abertura de vagas nos concursos gerais de colocação e recrutamento de professores.

Nesta matéria consideramos e continuamos a pugnar que as actividades de enriquecimento curricular se são importantes para as crianças e para o seu desenvolvimento, devem ser integradas no funcionamento normal das actividades lectivas, e não no seu modelo de implantação e o seu financiamento deficiente, tendo o PCP denunciado permanentemente o modo como os concursos são realizados, os vínculos precários com os docentes, e a sua baixa remuneração.

O município não tem gerido correctamente a aplicação dos métodos para o concurso de recrutamento de técnicos, não chega propalar do “alto da cátedra que a metodologia utilizada em Ponte de Lima tem nota positiva do Ministério da Educação” e depois fechar os olhos a práticas de métodos incorrectos. O processo de actualização dos métodos para implementação das actividades de enriquecimento curricular não parou em 2006, como tudo na vida este processo move-se e actualiza-se, a sua regulamentação tem novas exigências e procedimentos consagrados em legislação recente, naturalmente fruto da experiência acumulada dos anteriores anos lectivos, e também no acompanhamento das AEC que beneficiaram desta experiência acumulada. Não sabemos se foi o caso em Ponte de Lima, pelos vistos não?

As sugestões apresentadas por a eleita da CDU como contributo para a correcção de anomalias e para a lisura do processo de abertura do procedimento e critérios de selecção dos candidatos às várias áreas de ensino das AECs foram chumbadas pela maioria CDS/PSD na assembleia municipal de ponte de lima.

Levou ainda ao conhecimento do plenário deste órgão municipal que o Governo continua a ofensiva sem paralelo contra o Poder Local Democrático.
Depois do pacote de leis adaptadas à Administração Local, o Governo pretende agora alterar o regime jurídico das autarquias locais e aprovar o estatuto das entidades intermunicipais. Com esta opção o que o Governo pretende é travar a concretização das regiões administrativas; cria umas pseudo-regiões para não ter que criar as regiões previstas na Constituição.

Esta diferença de tratamento é para esvaziar os municípios das suas mais importantes competências, transferindo-as para entidades intermunicipais. A inclusão da organização e funcionamento de serviços municipais na lista de competências a delegar serve o objectivo de concentração destes serviços, dando-lhes uma dimensão que permita a sua posterior privatização. Esta concepção de descentralização pretende abrir caminho para o esvaziamento das competências dos municípios. 
Esta ofensiva sem paralelo contra o Poder Local Democrático conta com a determinada oposição do PCP.
Ler intervenções completas em: Os Comunistas na assembleia municipal

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Privatização da Escola Pública em passo acelerado

Nota do Gabinete de Imprensa do PCP

Privatização da Escola Pública em passo acelerado



Governo tenta impor medidas que visam desmantelar a Escola Pública de matriz democrática que a Constituição da República Portuguesa consagra!

1 – Apesar de o País ter sido confrontado com um trabalho de investigação, divulgado por um canal de televisão, que pôs a nu a natureza do ensino privado e a utilização indevida dos dinheiros públicos por parte de grupos empresariais que gerem uma parte significativa dos colégios privados em Portugal, o Ministério da Educação está a avançar, em “passo de corrida”, para um conjunto de alterações no funcionamento das escolas, que são parte integrante do processo de privatização em curso.

A urgência imposta pelas Direcções Regionais de Educação às escolas e agrupamentos, no sentido de aceitarem constituir novos mega-agrupamentos até à próxima sexta-feira, para que, no início do próximo ano civil, possam estar em funcionamento, só acontece porque este é um passo fundamental na estratégia de desmantelamento da Escola Pública, enquanto espaço humanizado e capaz de responder adequadamente às exigências que se lhe colocam, facilitando assim a sua privatização. Não será por acaso, de acordo com algumas situações já detectadas, que se chega ao ponto de pretender que o mega-agrupamento abranja todo o território do concelho. tornando dessa forma mais fácil, porque mais apetecível, a entrega da sua gestão a grupos privados que, eventualmente, num momento seguinte, se apoderarão da própria resposta educativa.

É inaceitável este caminho e esta prática antidemocrática (em muitos casos, os mega-agrupamentos são impostos contra a vontade de toda a comunidade), para além de a opção por estes mega-agrupamentos resultar de uma orientação economicista e não de qualquer preocupação em melhorar o funcionamento das escolas e a qualidade do ensino. Introduzir alterações tão significativas a meio do ano lectivo, com toda a instabilidade que daí resulta, tanto no plano organizacional, como de funcionamento, só se explica por ser essa uma forma de provocar ainda mais desemprego entre os professores e outros trabalhadores das escolas, pretendendo o governo que os seus efeitos se façam sentir já a partir do próximo mês. Mais uma vez, e em última análise, é a qualidade do ensino público que vai estar em causa e os direitos das crianças e jovens que frequentam a Escola Pública.

2- Sob ameaça de processo disciplinar, os professores estão a ser obrigados a validarem documento electrónico que, entre outros aspectos, consuma a alteração da natureza do seu vínculo laboral.

Este processo, só aparentemente inofensivo, de preenchimento de um conjunto de dados biográficos que podem ser utilizados, por exemplo, em futuros processos de concurso de colocação de professores, encerra em sim um objectivo muito claro – pôr os professores do quadro a validarem, através da sua própria assinatura, a alteração do vínculo laboral, passando do vínculo de nomeação para um vínculo de Regime de Trabalho em Funções Públicas, ficando assim o Ministério da Educação e Ciência (MEC) com mãos livres para despedir milhares de professores, já no próximo ano civil e económico, concretizando a intenção de reduzir 2% dos trabalhadores dos quadros, objectivo que, sob proposta do governo, PSD e CDS aprovaram no OE 2013 e com que, conjuntamente com o PS, se comprometeram perante a troika.

3 – Na sequência do maior despedimento de sempre de professores desencadeado pelo governo, já são mais de 20.000 os professores inscritos nos centros de emprego, devido às alterações introduzidas pelo Ministério da Educação na organização do sistema e no funcionamento das escolas, número que subirá significativamente já que 31.453 docentes continuam, hoje, por colocar na “Reserva de Recrutamento”. Ou seja, para além dos 20.000 inscritos nos centros de emprego, há mais 11.000 docentes desempregados que não têm direito a subsídio de desemprego.

Esta situação tenderá a um significativo agravamento caso se concretize a alteração do horário de trabalho das 35 para as 40 horas, medida que, só por si, atiraria para o desemprego mais 15.000 professores, bastando, para isso, que esse aumento do horário se reflectisse em mais 2 ou 3 horas lectivas. Acresce que os professores já hoje têm uma elevada sobrecarga de trabalho nas suas escolas, pelo que, um aumento do seu horário de trabalho teria, inevitavelmente, consequências negativas na própria qualidade do seu desempenho profissional.

4- Estas são apenas algumas das decisões que o governo do PSD/CDS-PP, no quadro da chamada “refundação do memorando” ou “profunda reforma do Estado”, tomou e que constituem parte de um processo, há muito iniciado, de desresponsabilização do Estado com a consequente privatização da Escola Pública.

A campanha ideológica que tem vindo a ser alimentada nos media, de que não há alternativa a esta política educativa e de que o País não tem dinheiro para manter esta importante Função Social do Estado, - garantir o acesso dos portugueses a todos os níveis do conhecimento, independentemente das suas condições sócio-económicas -, apenas procura levar à resignação aqueles que são as principais vítimas da política de destruição da escola e do ensino públicos.

À comunidade educativa – professores, estudantes, funcionários e pais – o PCP exorta para que tudo façam na defesa da Escola Pública, nomeadamente participando na manifestação convocada pela CGTP para o próximo sábado, dia 15, reafirmando que o futuro de Portugal passa, também, por uma aposta inequívoca e um investimento efectivo na Educação e na Escola Pública.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Posição comum do PCE e do PCP por ocasião das greves gerais de 14 de Novembro em Portugal e em Espanha


Nota

Posição comum do PCE e do PCP por ocasião das greves gerais de 14 de Novembro em Portugal e em Espanha


O Partido Comunista Português e o Partido Comunista de Espanha consideram que a crise em Portugal e em Espanha, com traços específicos em cada país, traduz o aprofundamento da crise do capitalismo e a sua expressão na União Europeia, à qual o grande capital procura responder com uma ofensiva que configura uma violenta regressão civilizacional.
Num momento marcado por uma grave situação para os trabalhadores e os povos de Portugal e de Espanha, que se confrontam com uma violenta ofensiva contra os seus direitos laborais e as suas conquistas sociais e democráticas, o Partido Comunista Português e o Partido Comunista de Espanha consideram que a crise em Portugal e em Espanha, com traços específicos em cada país, traduz o aprofundamento da crise do capitalismo e a sua expressão na União Europeia, à qual o grande capital procura responder com uma ofensiva que configura uma violenta regressão civilizacional.
As políticas seguidas quer em Portugal, quer em Espanha, prosseguem a brutal espiral de austeridade, a intensificação da exploração, o desemprego, os baixos salários e a precariedade, o empobrecimento, colocando em causa direitos e condições e serviços essenciais para a necessária prestação de cuidados de saúde, da educação e da segurança social, criando situações de autêntica catástrofe social.
Políticas que em Portugal e em Espanha apenas servem os interesses dos grandes grupos económicos, do grande capital financeiro, das grandes potências imperialistas e de uma União Europeia cada vez mais dirigida pelo directório de potências comandado pela Alemanha – no fundo, os interesses daqueles que são responsáveis pela crise e que com ela continuam a acumular riqueza, à custa da exploração, do desemprego, do empobrecimento e do esmagamento da independência dos Estados.
O PCE e o PCP, reafirmando que a situação exige uma verdadeira ruptura com tais políticas –que possibilite alternativas de progresso social, de desenvolvimento económico, de cooperação e de paz –, sublinham e valorizam o papel fundamental da luta de massas e, em particular, da luta dos trabalhadores e do movimento sindical de classe para a alcançar – uma ruptura que não se compadece com as manobras de uma social-democracia profundamente comprometida com o grande capital.
O PCE e o PCP reafirmam que a ruptura com o actual rumo de desastre passa pela rejeição do denominado “tratado orçamental”; pelo fim dos «memorandos de entendimento», autênticos pactos de agressão contra os trabalhadores, os povos; pela rejeição das ditas “reformas estruturais” de cariz anti-social e neoliberal; por medidas que valorizem o trabalho e os trabalhadores e que assegurem os direitos e as condições de vida dos povos; pela tributação efectiva do grande capital e da especulação financeira; por medidas que garantam o controlo público da banca e de sectores estratégicos da economia e apostem no progresso social como factor essencial para o desenvolvimento económico; por medidas que salvaguardem a democracia e a soberania e um quadro de cooperação na Europa.
O PCE e o PCP expressam a sua solidariedade aos trabalhadores e aos povos de Portugal e Espanha, que, como noutros países da Europa, se levantam contra a brutal agressão a que estão a ser sujeitos, organizando poderosas jornadas de luta em defesa dos seus direitos e condições de vida e da democracia, contra as políticas de direita aplicadas em cada um dos países e as imposições e políticas neoliberais da União Europeia e do seu directório de grandes potências.
O PCE e o PCP saúdam a realização das duas greves gerais que, partindo da grave realidade e das condições específicas de cada país, foram convocadas em Portugal e em Espanha para o dia 14 de Novembro.
Existem alternativas! Por via da luta dos trabalhadores e dos povos da Europa. Por via da derrota das políticas de austeridade e de abdicação nacional dos pactos de agressão. Por via da ruptura com as políticas anti-sociais e anti-democráticas e da afirmação dos direitos dos povos. Por via de conquistas e transformações de carácter anti-capitalista e anti-monopolista, no rumo da construção do socialismo. Por via da solidariedade internacionalista. Uma outra Europa dos trabalhadores e dos povos é necessária e possível.
Partido Comunista de Espanha
Partido Comunista Português

sábado, 10 de novembro de 2012

Um vasto programa de iniciativas nas comemorações do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal


Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral do PCP, Lisboa, Sessão Pública de apresentação do Programa das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal «Vida, pensamento e luta: exemplo que se projecta na actualidade e no futuro»

Um vasto programa de iniciativas nas comemorações do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal


Decidiu o Comité Central do PCP, certo de interpretar não apenas a vontade do conjunto dos militantes do nosso Partido, mas dos democratas e patriotas, da classe operária, dos trabalhadores, dos intelectuais, da juventude, dos homens e mulheres da ciência, da arte e da cultura, do nosso povo, comemorar, durante o ano de 2013, o Centenário do nascimento de Álvaro Cunhal com um vasto programa de iniciativas que hoje aqui tornamos públicas.
A dimensão nacional e internacional da vida e pensamento de Álvaro Cunhal, da sua obra e intervenção justifica este exigente, mas aliciante empreendimento a que nos propusemos e que, antes de mais, nos apraz registar, conta também com a iniciativa própria de um amplo leque de instituições da vida política, social e cultural do nosso país.
As comemorações do Centenário do nascimento de Álvaro Cunhal são a justa e incontornável homenagem ao homem, ao comunista, ao intelectual, ao artista, figura central do Século XX português e princípio deste século, e que se afirmou como uma referência na luta pelos valores da emancipação social e humana no país e no mundo, nomeadamente para os que, nos quatro cantos do planeta, abraçam a luta libertadora de todas as formas de exploração e opressão do homem e dos povos.
Homenagem justíssima a uma personalidade de invulgar inteligência e inteireza de carácter, cuja actividade e capacidade de realização no plano político está patente no valoroso trabalho e papel que desempenhou no seio do seu Partido de sempre – o PCP – e ao qual dedicou toda a sua vida, e na actividade e intervenção que com ele desenvolveu na defesa dos interesses dos trabalhadores, do nosso povo e do nosso país.
Centenário que é a oportunidade e momento para chamar a atenção para o valioso legado da sua multifacetada actividade, para a importância da sua divulgação, pela riqueza, diversidade e profundidade do seu trabalho teórico e intervenção política, mas igualmente para a sua laboração criadora cultural e artística, para a sua vida de coerência, firmes convicções e acção, para a actualidade do seu pensamento na resposta aos problemas do país e do nosso tempo.
Quem se preocupa com os problemas que enfrenta a sociedade de hoje e particularmente quando assistimos a inquietantes fenómenos de regressão social, retrocesso civilizacional e desumanização crescente das relações sociais no quadro de uma aguda crise sistémica do capitalismo, não pode passar ao lado do seu pensamento, da sua obra e do seu exemplo de homem e revolucionário.
O seu pensamento e acção política, a sua história pessoal de combatente pela liberdade, a democracia e o socialismo que se entrosa na história de quase cem anos deste Partido Comunista Português, são um exemplo motivador que nos interpela, neste momento particular de realização do Centenário do seu nascimento, para o prosseguimento do combate que foi o dele e é hoje nosso, em demanda da concretização do ideal e projecto comunista, de um mundo justo, livre e fraterno.
Militante e dirigente comunista, Álvaro Cunhal foi Secretário-Geral do PCP tendo nascido em Coimbra, faz hoje noventa e nove anos. Nasceu numa época em que a República portuguesa dava os primeiros passos e se aproximava o momento da grande viragem para um tempo e um mundo novos que a Revolução Socialista de Outubro havia de transportar, Álvaro Cunhal muito jovem tomou o partido nos grandes combates do seu tempo, fazendo a opção pelos direitos dos explorados e oprimidos, para se entregar inteiramente à causa emancipadora dos trabalhadores e dos povos, num percurso que se prolongou ao longo de mais de sete décadas.
Era estudante na Faculdade de Direito de Lisboa, quando iniciou a sua actividade revolucionária, num período em que era já membro do Partido e quando a ditadura em Portugal tinha também já assumido as características típicas de um Estado e organização fascistas.
O início de um longo trajecto de intervenção e de luta que percorrerá com uma indomável determinação e grande abnegação, resistindo às mais terríveis e duras provas em dezenas de anos de vida clandestina e prisão que iniciou em 1935 como quadro do Partido, e quando teve que enfrentar com inaudita coragem a tortura e a violência brutal da polícia política de uma ditadura sem escrúpulos. Por três vezes esteve preso nas cadeias fascistas, a última das quais onze anos consecutivos, a maior parte em completo isolamento, evadindo-se juntamente com outros destacados militantes comunistas para retomar o seu combate de sempre.
Já membro do Comité Central e não tardará membro do seu Secretariado, participa na reorganização do PCP, em 1940/41 que transforma o PCP num grande partido nacional, da classe operária, dos trabalhadores e dirigente da luta de resistência antifascista, num processo onde é inquestionável o seu contributo nesse período que vai até à sua prisão em 1949 para a concepção, construção e consolidação do PCP, como um partido revolucionário, marxista-leninista. Um contributo de elevado valor, nomeadamente para a definição da identidade e características essenciais de um partido comunista, bem como para a concepção do Partido, como um grande colectivo activo e participante, no qual o trabalho colectivo é visto como “princípio básico essencial do estilo de trabalho do partido” e aspecto fulcral da democracia interna. Problemas que serão sempre uma preocupação central e objecto de novos desenvolvimentos da sua produção teórica e que estão bem patentes na sua obra O Partido com Paredes de Vidro, escrito em 1985 e que é a mais profunda reflexão teórica de Álvaro Cunhal, enquanto construtor do Partido e que teve uma ampla repercussão no movimento comunista internacional.
Dirigente experimentado, possuidor de uma densa cultura e dimensão humanista, estudioso e conhecedor da realidade portuguesa e das relações internacionais, Álvaro Cunhal combinou sempre uma esforçada intervenção concreta sobre a realidade, com uma profícua produção teórica.
O seu domínio das teorias e método de análise do marxismo-leninismo que assimilou de forma criativa para responder aos problemas da sociedade portuguesa e da sua relação com o mundo, à solução de problemas concretos e à concretização de um projecto de desenvolvimento soberano do país, num quadro de afirmação de valorização do trabalho e dos trabalhadores e do seu desígnio de emancipação.
Uma abundante produção que não é apenas património do Partido, mas dos trabalhadores, dos intelectuais, do nosso povo, de todos os que aspiram ao conhecimento e à concretização de um mundo melhor e mais justo.
No plano político, amplamente reconhecida é a sua contribuição e papel na elaboração da estratégia e táctica do Partido, desde logo nas suas intervenções nos III e IV Congressos. No notável texto do desvio de direita de 1956/59. A seguir, nesse contributo brilhante para a definição do Programa para a Revolução Democrática e Nacional que é o Rumo à Vitória, pela visão de conjunto que encerra, o rigor e acerto da análise, a justeza e realismo na perspectiva, tarefas e orientação que a vida plenamente comprovou e que inquestionavelmente criou condições para a Revolução de Abril e as profundas transformações revolucionárias operadas na sociedade portuguesa. Papel e contributo que se alargou a todo processo revolucionário combinando análise, definição de orientação e intervenção. Um período de intensa actividade partidária que associou a uma relevante actividade institucional. Álvaro Cunhal foi Ministro sem Pasta nos primeiros quatro governos provisórios e eleito deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República, tendo sido ainda membro do Conselho de Estado durante praticamente toda a década de oitenta e até ao princípio dos anos noventa.
Mas neste plano de concepção e elaboração da estratégia e táctica do Partido não se pode omitir o contributo destacado para o Programa Portugal, uma Democracia Avançada, no Limiar do Século XXI.
No acervo de estudos e ensaio político abarcando uma diversidade de objectos e temas são célebres a tese pioneira sobre O Aborto Causas e Soluções (1940), o seu trabalho de análise sobre a realidade dos campos em a Contribuição para o Estado da Questão Agrária, o seu estudo histórico sobre um período tão significativo para a própria independência do país e tão exaltante pelo papel que desempenhou o povo de Lisboa na Revolução de 1383/1385 e que trabalhou em As Lutas de Classes em Portugal nos Fins da Idade Média, mas também outros períodos da nossa história mais recente em A Revolução Portuguesa. O Passado e o Futuro. O seu primeiro escrito em liberdade e Relatório ao VIII Congresso, onde está sobretudo analisado o mais exaltante período da história do nosso povo e onde se abordam os últimos anos da ditadura fascista, o ascenso da luta popular e nas Forças Armadas, a aproximação da situação revolucionária de Abril, os anos de fluxo revolucionário e os primeiros passos do processo contra-revolucionário. Processo que analisará em A verdade e a Mentira na Revolução de Abril (A contra-revolução confessa-se) e que é um implacável desmascaramento da acção das diferentes componentes da contra-revolução em Portugal, pelas próprias palavras dos seus protagonistas. Noutro registo, e integrando um propósito de acção na luta ideológica, destacam-se entre outras, as suas obras O radicalismo Pequeno Burguês de Fachada Socialista e Acção Revolucionária, Capitulação e Aventura que são exemplos da riqueza e profundidade da produção teórica de Álvaro Cunhal.
Uma abundante análise e um olhar permanente sobre os mais variados problemas do país e da vida internacional de eminente pendor político podem ser encontrados nos seus Discursos Políticos editados em 23 volumes, nas Obras Escolhidas e numa profusão de artigos e brochuras de revistas nacionais e internacionais.
Ampla e diversificada foi a sua contribuição para o fortalecimento do movimento comunista internacional, de apoio ao movimento de libertação nacional, à luta pela paz e de estímulo ao processo de emancipação dos trabalhadores e dos povos.
Vertente relevante da intensa e riquíssima actividade intelectual do camarada Álvaro Cunhal é a sua produção artística, nomeadamente no campo da estética, da criação literária e nas artes plásticas.
Ele é autor de uma dezena de obras literárias, de onde emergem, como expoentes maiores, o romance Até Amanhã, Camaradas e a novela Cinco Dias, Cinco Noites, ambos escritos no isolamento total da Penitenciária de Lisboa.
É aí, no espaço fechado de uma cela onde a luz nunca era apagada mas onde o sol nunca entrava, que leva por diante, também, a notável tradução do Rei Lear, de Shakespeare.
É aí, nessa cela de dois metros por três – e, posteriormente, no Forte de Peniche - que desenha e pinta um vasto conjunto de quadros: os Desenhos da Prisão, dos quais estão publicados 41 e Projectos, oito belíssimos quadros a óleo sobre madeira.
E é ainda nesse universo de repressão cruel e sádica que, dando continuidade à sua reflexão sobre as questões de arte e estética, produz o texto Cinco Notas Sobre Forma e Conteúdo – matéria que voltará a abordar, mais tarde, após o 25 de Abril, na intervenção de encerramento da I Assembleia de Artes e Letras da ORL, em 1976 e, vinte anos depois, no importante ensaio A Arte, o Artista e a Sociedade.
Em todos esses textos, embora em graus diferentes de desenvolvimento, estão presentes a defesa e o desejo de uma arte socialmente comprometida – a par de uma total compreensão sobre a autonomia própria dos fenómenos da criação artística, dentro da ideia de que, se é de desejar e defender que o artista se bata politicamente com a sua arte ao lado dos trabalhadores e do povo, isso não quer dizer, em caso algum, que ele tenha que obedecer a imposições de escolas ou tendências estéticas predeterminadas.
Escreve ele em A Arte, o Artista e a Sociedade: «Um apelo à arte que intervém na vida social é intrinsecamente um apelo à liberdade, à imaginação, à fantasia, à descoberta e ao sonho. Ou seja: à não obediência a quaisquer “regras” obrigatórias, antes à consideração de que a criatividade artística, mesmo quando parte de certas “regras”, acaba por modificá-las, ultrapassá-las e superá-las». E, mais adiante: «Arte é liberdade. É imaginação, é fantasia, é descoberta e é sonho (…) Matar a liberdade, a imaginação, a fantasia, a descoberta e o sonho, seria matar a criatividade artística e negar a própria arte, as suas origens, a sua evolução e o seu valor como atributo específico do género humano».
Por toda a obra artística de Álvaro Cunhal perpassam as preocupações que expressa na sua obra ensaística: os personagens dos seus livros, as figuras dos seus desenhos, são homens e mulheres explorados e empenhados na luta, são, pode dizer-se, os seus camaradas e o povo que sofre e luta com determinação e confiança.
Morreu aos 92 anos, em 13 de Junho de 2005, e o seu funeral, com a participação de centenas de milhar de pessoas, sendo o reconhecimento e homenagem não apenas do Partido, mas dos trabalhadores e do povo português ao seu percurso de vida de intrépido revolucionário, foi uma afirmação da vitalidade e actualidade dos seus ideais e da luta de toda a sua vida e uma manifestação de confiança e certeza que esses ideais e luta têm continuadores no futuro.
Na actual situação do país, com as consequências de anos de política de direita e da sua ofensiva, do recente Pacto de Agressão de austeridade e saque nacional, assinado por PS/PSD e CDS com a troika estrangeira e do processo de integração europeia, a contribuição e análise de Álvaro Cunhal ecoa com redobrada actualidade.
A velha ideia “da natural pobreza do país” proclamada pela ditadura fascista e pelos beneficiários da sua política, que Álvaro Cunhal denunciava como uma mistificação das classes dirigentes para encobrir a política de rapina exploração do povo a favor dos grandes grupos monopolistas, está hoje de regresso, com o actual governo do PSD/CDS e com a concretização do Pacto de Agressão.
A apologia do empobrecimento a que assistimos como forma de superar a crise e assente na ideia de que os portugueses vivem acima das suas possibilidades e das condições do país, visa os mesmos propósitos e os mesmos objectivos – servir os grandes grupos económicos e financeiros, nacionais e estrangeiros.
Um processo que passou a utilizar de forma impetuosa e concentrada os mesmos instrumentos e mecanismos de extorsão dos trabalhadores e do povo, nomeadamente o papel do Estado e a sua acção coerciva que Álvaro Cunhal identificou como decisivos para dar forma ao capitalismo português, assente no domínio do capital monopolista, hoje restaurado, sobre a economia e a vida do país.
Domínio que é uma das principais causas, senão a principal, da crise e do actual trajecto de regressão económica e social e declínio nacional. Regressão e declínio que se foram crescentemente manifestando, tal como se previa, à medida que avançou o processo de recuperação capitalista e monopolista. Regressão e declínio que hoje assume uma nova e mais grave dimensão com a política e medidas do Pacto de Agressão.
A ofensiva em curso, a coberto de tal Pacto, que utiliza e coloca o Estado ao serviço dos grandes grupos económicos e do seu projecto, está bem patente na iniciativa de liquidação dos direitos laborais do actual governo com o apoio do PS, na política oficial de redução compulsiva dos salários e rendimentos do trabalho, na concretização e aprofundamento do modelo económico de salários de miséria, baixo valor acrescentado e emigração que mais não é que o modelo de Salazar e Caetano. Na agravada política fiscal sobre os rendimentos do trabalho que assume contornos de confisco com o Orçamento de Estado para 2013. Um Orçamento inqualificável – o pior Orçamento de Estado de que há memória – um Orçamento portador do maior saque fiscal de sempre em democracia e de brutais cortes nas funções sociais do Estado. Um Orçamento que colhe o repúdio e o protesto generalizado dos trabalhadores e do povo português, e que se impõe derrotar. Igualmente no programa de privatizações de empresas estratégicas e de transferência de um vasto património público para os grandes grupos económicos nacionais e estrangeiros que, neste momento, assume um novo incremento e uma criminosa dimensão.
Esse Estado que adopta, com a actual política, a condição de Estado intermediário na canalização de recursos do país e do povo para o grande capital, como se torna bem evidente na política de endividamento do país para servir os propósitos de financiamento directo do sistema financeiro e da sua recapitalização, na garantia de rendas brutais e permanentes a favor dos grandes grupos económicos, quer através da concessão de serviços públicos, quer com os negócios das parcerias, quer ainda com as políticas de incentivos e benefícios fiscais.
Um Estado intermediário, instrumento de uma política de classe concreta que garante ainda condições leoninas aos grandes grupos monopolistas de domínio do mercado nos seus sectores de actividade, numa posição que lhes permitem parasitar o país e sugar a mais-valia dos sectores produtivos nacionais.
É esta política, e uma abusiva utilização e instrumentalização do Estado ao serviço de uma política de forçada concentração e centralização da riqueza, que está a conduzir o país a uma crescente dependência e fragilização, e ao generalizado empobrecimento do nosso povo.
Uma realidade que confirma a actualidade e importância da luta de libertação do país do domínio monopolista que Álvaro Cunhal referenciou de forma sistemática, na definição das grande orientações de uma nova política para actual etapa histórica. Orientações traçadas em ruptura com a política de direita de sucessivos governos do PS e do PSD, com a muleta do CDS, de recuperação capitalista e de reforço e consolidação monopolista.
Uma realidade que confirma a imperiosa urgência de garantir uma alternativa política e uma política alternativa patriótica e de esquerda, capaz de assegurar uma viragem na política nacional e que, nas condições actuais, pressupõe igualmente a rejeição do Pacto de Agressão e a inscrição imediata de um processo de renegociação da dívida pública, nos termos em que o temos afirmado, para criar as condições de relançamento do desenvolvimento do país.
Uma política dirigida à defesa e valorização da produção nacional e do aparelho produtivo do país, um aspecto que merece uma atenção central na obra de Álvaro Cunhal, e que tinha subjacente a vital preocupação de afirmar a máxima independência económica para garantir a independência nacional.
Nesta matéria, registemos a justeza das advertências de Álvaro Cunhal e do nosso Partido em relação às consequências da adesão de Portugal à CEE, hoje União Europeia, e as suas análises premonitórias dos impactos negativos na capacidade produtiva do país e na destruição de sectores estratégicos e essenciais para afirmação da soberania do país. A vida deu-lhe razão. Impactos que se tornaram ainda mais perniciosos e trágicos com a adesão ao Euro, nas condições altamente desvantajosas em que foi realizada e com os posteriores desenvolvimentos da integração capitalista da União Europeia de expropriação crescente de áreas de soberania de países como o nosso, e que nos está a transformar num país colonizado pelo directório das grandes potencias europeias.
Daí o combate que hoje também travamos e a centralidade que assume na nossa proposta alternativa a ideia de pôr Portugal a produzir, garantindo uma justa distribuição da riqueza criada e melhorar as condições de vida e trabalho do povo.
É essa a nossa resposta ao falso dilema da fraudulenta operação de refundação do Estado e que assenta na ideia de que o país está perante um único dilema: - o de aumentar impostos ou cortar nas funções do Estado. Essa operação que visa a subversão do nosso regime democrático e a revisão prática da Constituição da República, e cuja programa de concretização este governo do PSD/CDS decidiu colocar sobre direcção de mãos estrangeiras e submeter o país a tal vexame.
Um ensinamento que Álvaro Cunhal nos legou é o de que, sejam quais forem as circunstâncias existentes em cada momento, a luta é sempre necessária – e vale sempre a pena, porque será ela e a força que dela emana, em última instância a determinar a evolução dos acontecimentos. Isso está presente na luta actual que está a conduzir ao crescente isolamento social e político do actual governo do PSD/CDS, e que tem na Greve Geral do próximo dia 14 de Novembro um momento alto que dará frutos, um momento de decisão para o qual estamos todos convocados para pôr fim à vaga de terrorismo social que está em curso e abrir caminho a uma política que vá ao encontro dos interesses do povo e do país.
Mas é o olhar, para além da conjuntura, que caracteriza de forma relevante a produção teórica e a actividade de Álvaro Cunhal, bem patente no seu contributo ao actual Programa do Partido, cuja actualidade permanece e que o Partido reconhece como um projecto de futuro para o país. Um Programa que afirma os valores de Abril e que, estamos certos, o XIX Congresso do PCP, que se realizará daqui a três escassas semanas, confirmará.
Um Congresso que, nunca é demais sublinhar, assume uma importância ainda maior no exigente e complexo quadro em que vivemos e lutamos.
Um Congresso para dar resposta aos problemas do país, dos trabalhadores e do povo e apontar os caminhos da alternativa capaz de assegurar um Portugal com futuro.
Figura fascinante, Álvaro Cunhal permanecerá como um exemplo maior do combatente abnegado de um Partido cuja história se confunde com a história da luta do povo no último século.
Do valioso e imenso legado que nos deixou, está também o sonho que sabia ser possível transformar a vida: - esse sonho milenário de uma sociedade liberta da exploração do homem por outro homem! Sonho que continua a alimentar as nossas vidas e a nossa luta!

Sobre os dados do Comércio Internacional de Mercadorias, nos primeiros nove meses de 2012


Nota do Gabinete de Imprensa do PCP

Sobre os dados do Comércio Internacional de Mercadorias, nos primeiros nove meses de 2012


No mês de Setembro, e pela primeira vez no corrente ano, as exportações de mercadorias caíram 6,5%. Exportaram-se neste mês menos 246 milhões de euros de mercadorias do que em Setembro de 2011. Este valor deveu-se fundamentalmente à queda das exportações para os países da União Europeia - que representam 71,2% do total das exportações e que caíram neste mês 8,3% - assim como a evolução da taxa de câmbio do euro com o dólar.
Com os dados agora divulgados, é possível desde já concluir-se que ao longo do corrente ano o ritmo de crescimento das exportações vem desacelerando de forma sustentada de trimestre para trimestre (no 1º trimestre 11,5%, 2º trimestre 7,2% e 3º trimestre 4,5%).
Desta forma, e dada a evolução das economias europeias nomeadamente a Espanhola para onde as exportações caíram nos primeiros 9 meses 4,6% e a Alemã para onde a queda foi de 1,3%, é bem possível que o objectivo do Governo de as exportações crescerem no corrente ano 4,3% possa neste momento estar em causa.
Pode bem dizer-se que, a confirmar-se esta evolução, o único factor com que até agora a nossa economia parecia funcionar começa a mostrar dificuldades e os riscos do aprofundamento da recessão crescem.
Reafirmamos, uma vez mais, que só com a rejeição do Pacto de Agressão, só com a ruptura com a política de direita, só libertando o país dos interesses do grande capital, Portugal poderá ter futuro. O país precisa de uma outra política, de uma política patriótica e de esquerda.
Estes factos não podem ser escamoteados com o argumento abusivo do efeito das greves portuárias sobre as exportações para os países extracomunitários, que de acordo com INE são na sua esmagadora maioria feitas por via marítima. Se considerássemos que a totalidade da queda das exportações feitas para estes países se devia a estas greves, e isso significaria ignorar outros factores importantes já referidos, mesmo assim as exportações teriam caído 1,2%, em Setembro.
Uma política que assuma a imediata renegociação da dívida pública, nos seus prazos, juros e montantes, incluindo a renúncia da componente ilegítima dessa dívida e a assumpção de um serviço da dívida compatível com as necessidades de crescimento económico e criação de emprego.
Uma política que garanta a efectiva defesa da produção e do aparelho produtivo nacional que envolva: um programa de substituição de importações por produção nacional; medidas de efectiva redução dos custos dos factores de produção: energia, transportes, comunicações, crédito, entre outros; o aproveitamento e controlo soberano dos recursos nacionais; a valorização do mercado interno como componente do crescimento económico; o apoio efectivo às micro, pequenas e médias empresas; a diversificação das relações económicas, comerciais e de cooperação com outros povos.
Uma política que concretize o fim das privatizações e a recuperação do controlo público dos sectores estratégicos da economia nacional, incluindo a nacionalização da banca, colocando-os ao serviço dos trabalhadores e do povo.
Uma política que, no plano fiscal, acabe com o escandaloso favorecimento da banca, da especulação financeira, dos grandes grupos económicos nacionais e estrangeiros.
Uma política que aposte na valorização dos salários, das reformas e pensões, das prestações sociais, inseridas num processo de combate às injustiças e melhoria das condições de vida das populações, bem como de estímulo ao mercado interno e à actividade económica.
Uma política de dinamização do investimento público, central e local necessário ao crescimento da actividade económica, à modernização e qualificação do país e à satisfação das necessidades das populações e que envolve de imediato a adopção de um plano de emergência para o sector da construção civil.
É na concretização desta política, no crescimento económico e na melhoria das condições de vida do povo português, na redução da dependência externa e na afirmação da soberania nacional que, falando verdade aos trabalhadores e ao povo português, o PCP está empenhado.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Afinal quem nos governa?


  Opinião

N.º 2032 
8.Novembro.2012

Aurélio Santos 

Afinal quem nos governa?
O País sai à rua, uma, duas «N»vezes, exigindo a demissão do Governo. O Governo não se demite, não é demitido, mas desiste de governar. Entrega a governação à troika. Ou seja: vivemos numa democracia mas somos governados por uma espécie de clube de malfeitores que não foram eleitos e actuam como uma máfia.

As funções de ministro dos Assuntos Parlamentares são exercidas por um comentador de televisão, o sr. Marques Mendes, que assumiu gostosamente as funções de «porta-voz» (ou moço de fretes?) do partido do Governo.
E perante este quadro o líder do maior partido dito da oposição (?) limita-se a dizer que «é muito responsável» – mas apresta-se a discutir com o Governo «as reformas a introduzir» na refundação do Estado.

Temos um primeiro-ministro que chamou «piegas» ao povo – mas afinal foram os deputados da maioria que o suporta na Assembleia da República quem demonstrou uma cobarde pieguice para não enfrentar uns pacatos manifestantes que junto à AR protestavam contra o Orçamento. (É compreensível: esses deputados não estão de consciência limpa.)
A completar este cenário temos um Presidente da República que custa ao País 16 milhões de euros anuais (uma das mais caras presidências da Europa) mas que não vê, não ouve, nem fala: estaremos perante uma realidade virtual a três dimensões?

O conluio entre esta política e os interesses do grande capital é tão descarado que já nem o disfarçam. O banqueiro Fernando Ulrich veio provocatoriamente dizer que «o povo não gosta, mas aguenta, tem de aguentar». Mas engana-se o sr. Ulrich.

Não vamos aguentar, não vamos deixar que nos roubem para pagar os juros do dinheiro que o Governo deu aos bancos, incluindo ao BPI do Sr. Ulrich. Os oito mil milhões de cortes na «despesa», leia-se benefícios sociais, foram direitinhos para a banca.

Gostem ou não esses senhores, temos uma Constituição que nos garante sermos uma democracia e um Estado independente. Quem não sabe governar em democracia está a mais neste país, e quem não sabe viver com a democracia também está a mais.

Quarenta e oito anos de ditadura já nos chegaram e sobraram!