Opinião

N.º 2032
8.Novembro.2012
Aurélio Santos
Afinal quem nos governa?
O País sai à rua,
uma, duas «N»vezes, exigindo a demissão do Governo. O Governo não se demite,
não é demitido, mas desiste de governar. Entrega a governação à troika.
Ou seja: vivemos numa democracia mas somos governados por uma espécie de clube
de malfeitores que não foram eleitos e actuam como uma máfia.
As funções de ministro dos Assuntos
Parlamentares são exercidas por um comentador de televisão, o sr. Marques Mendes,
que assumiu gostosamente as funções de «porta-voz» (ou moço de fretes?) do
partido do Governo.
E perante este quadro o líder do maior
partido dito da oposição (?) limita-se a dizer que «é muito responsável» – mas
apresta-se a discutir com o Governo «as reformas a introduzir» na refundação do
Estado.
Temos um primeiro-ministro que chamou
«piegas» ao povo – mas afinal foram os deputados da maioria que o suporta na
Assembleia da República quem demonstrou uma cobarde pieguice para não enfrentar
uns pacatos manifestantes que junto à AR protestavam contra o Orçamento. (É
compreensível: esses deputados não estão de consciência limpa.)
A completar este cenário temos um
Presidente da República que custa ao País 16 milhões de euros anuais (uma das
mais caras presidências da Europa) mas que não vê, não ouve, nem fala:
estaremos perante uma realidade virtual a três dimensões?
O conluio entre esta política e os
interesses do grande capital é tão descarado que já nem o disfarçam. O
banqueiro Fernando Ulrich veio provocatoriamente dizer que «o povo não gosta,
mas aguenta, tem de aguentar». Mas engana-se o sr. Ulrich.
Não vamos aguentar, não vamos deixar que nos roubem
para pagar os juros do dinheiro que o Governo deu aos bancos, incluindo ao BPI do
Sr. Ulrich. Os oito mil milhões de cortes na «despesa», leia-se benefícios
sociais, foram direitinhos para a banca.
Gostem ou não esses senhores, temos uma
Constituição que nos garante sermos uma democracia e um Estado independente.
Quem não sabe governar em democracia está a mais neste país, e quem não sabe
viver com a democracia também está a mais.
Quarenta e oito anos de
ditadura já nos chegaram e sobraram!