domingo, 20 de janeiro de 2013

Abertura das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal


Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral do PCP, Lisboa, Sessão Pública de Abertura das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal

Abertura das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal



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Iniciamos aqui, o ano das comemorações do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal, figura maior do Portugal contemporâneo, referência incontornável da luta do nosso povo pela liberdade, a democracia, a emancipação social e humana dos trabalhadores e dos povos, assumido protagonista da história e do desbravar dos caminhos da construção de uma “terra sem amos”.
Comemorações que serão um momento de reconhecida homenagem ao homem de coerência, de firmes convicções humanistas, inteireza de carácter, ao comunista – militante abnegado, dirigente político experimentado e estadista –, ao intelectual, criador multifacetado e ao artista produtor e teorizador do belo na arte e na vida dos homens e do seu povo.
Com um pensamento e visão do país e do mundo que se projectam no futuro, Álvaro Cunhal, deixou-nos há pouco tempo. Ecoam muito vivas na nossa memória e perto das nossas vidas a força das suas palavras, da sua intervenção e acção no tempo presente, vivendo os problemas, as tarefas, os combates centrais que hoje travamos em defesa dos trabalhadores, do nosso povo e do país, e que eram os seus combates e do seu Partido de sempre – o PCP – que ajudou a construir, com um contributo inestimável, com a identidade que nos orgulhamos de possuir, preservar e afirmar.
Por isso, Álvaro Cunhal, não é apenas fonte de inspiração, de ensinamento, de exemplo que nos mobiliza e referencial teórico para os combates que hão-de vir, é mais do que isso, é um combatente que nos acompanha com a sua opinião e análise muito concretas de resposta a problemas reais do nosso país e do nosso povo e no rasgar de novos horizontes para Portugal, hoje tão necessários para libertar o país do rumo para o declínio e de uma vergonhosa sujeição e dependência a que a política de direita, de recuperação capitalista e latifundista, conduziu e continua a conduzir o país.
As comemorações que agora se abrem não visam promover qualquer culto da personalidade. Culto que Álvaro Cunhal sempre combateu e ao qual dedicou em o “Partido com Paredes de Vidro” avisadas palavras quer sobre o fenómeno da deificação dos vivos, mas igualmente dos mortos e em relação aos quais, a prestação de uma justa homenagem jamais se poderia traduzir numa “desencorajadora subestimação do papel dos vivos” da sua luta e acção, aos quais cumpre, como afirmava, com a sua “ investigação, a análise e o espírito criativo, o estudo e a interpretação dos novos fenómenos” que o devir da sociedade sempre coloca.
Uma homenagem, portanto, não para incensar e endeusar – utilizando as suas próprias palavras –, mas de reconhecimento do seu valor e para aprender com os seus ensinamentos, o seu exemplo e que neste momento de mistificação e generalizações grosseiras, pode e deve servir também para demonstrar que a política é uma actividade nobre e imprescindível na vida dos homens.
Uma homenagem que é indissociável da identificação de Álvaro Cunhal com o PCP e o seu projecto. Temos afirmado que Álvaro Cunhal não era o que foi sem o PCP e o PCP não seria o que é, com as suas características, sem o contributo de Álvaro Cunhal.
A sua intensa e diversificada intervenção política, a riqueza, diversidade e profundidade do seu trabalho teórico, que resultou do estudo atento e aprofundado da realidade, do seu domínio das teorias e método de análise do marxismo-leninismo que assimilou de forma criativa e lhe permitiu conhecer a sociedade portuguesa nos seus processos globais, responder aos seus problemas, apontar os caminhos do seu desenvolvimento, numa perspectiva de defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do país.
Um abundante e válido património que mantém toda a actualidade e que não é apenas um precioso legado do PCP, mas do país e de todos os que aspiram ao conhecimento e à concretização de um mundo melhor e mais justo.
A melhor prova do reconhecimento da validade e actualidade do seu pensamento e da sua obra está bem patente na recente confirmação pelo XIX Congresso do PCP da manutenção dos objectivos e propostas fundamentais do Programa do PCP, hoje denominado: «Uma Democracia Avançada – Os valores de Abril no futuro de Portugal», na concepção do qual, Álvaro Cunhal, deu um importante e singular contributo.
Num Congresso onde esteve presente o país real, o país devastado pela intervenção estrangeira e pela actual política de ruína nacional. Um Congresso que apontou os caminhos para resgatar Portugal e devolver ao país o que é do país, e ao povo a sua soberania e o seu direito ao desenvolvimento, ao crescimento, ao emprego e o direito dos trabalhadores e do povo a uma vida digna.
Um Congresso que assumiu a tarefa do enriquecimento desse Programa que se revelou de uma grande profundidade e sentido de futuro e que é a resposta alternativa dos comunistas portugueses à crescente colonização económica pelas grandes potências da União Europeia e ao domínio do capital monopolista nacional e internacional sobre o nosso país e a vida dos portugueses.
Um programa estratégico para a concretização de um verdadeiro programa de desenvolvimento do país para a actual etapa histórica, parte integrante e constitutiva da luta pelo socialismo e cuja realização é igualmente indissociável da luta que hoje travamos pela concretização da ruptura com a política de direita e da materialização de uma política patriótica e de esquerda.
Um Programa que define um projecto de Democracia Avançada que assenta na definição básica de que a democracia é simultaneamente política, económica, social e cultural, e que Álvaro Cunhal perspectivava e caracterizava como um “regime democrático que proceda a realizações progressistas de carácter não capitalista” para realizar cinco objectivos fundamentais:
- Um regime de liberdade no qual o povo decida do seu destino e um Estado democrático representativo e participado;
- Um desenvolvimento económico assente numa economia mista, liberta do domínio dos monopólios, ao serviço do povo e do país;
- Uma política social que garanta a melhoria das condições de vida dos trabalhadores e do povo;
- Uma política cultural que assegure o acesso generalizado à livre criação e fruição culturais;
- Uma pátria independente e soberana com uma política de paz e cooperação com todos os povos.
Um programa que surge no seguimento da Revolução Democrática e Nacional e das análises às características do capitalismo português que Álvaro Cunhal estudou e cujas teses essenciais estão expressas na obra “Rumo à Vitória”. Nessa obra marcante na qual se definem a estratégia e as tarefas do Partido que haviam de ajudar a construir o caminho que conduziu à Revolução de Abril e contribuir para determinar a sua natureza, numa resultante onde a teoria se assumia como força material na acção impetuosa das massas populares e na acção dinâmica da aliança Povo-MFA que Álvaro Cunhal, antes de todos, caracterizou e apontou como o motor da Revolução.
Foi a partir da investigação aprofundada da realidade portuguesa, que Álvaro Cunhal mostrou que a formação dos monopólios em Portugal tinha a particularidade de não ser o resultado da livre concorrência capitalista, com a consequente concentração e centralização da riqueza, mas uma construção forçada e determinada pela utilização do poder coercivo do Estado para favorecer o grande capital e os grandes agrários, através dos mais variados métodos de espoliação e empobrecimento das camadas e classes populares e da usurpação dos recursos do país.
Um processo assente na mesma lógica e com os mesmos propósitos que estiveram presentes no processo de recuperação capitalista e restauração monopolista dos últimos anos em Portugal, cujo domínio sobre a economia e a vida do país é, tal como no passado, a principal causa do trajecto de regressão económica e social do país, da crise e da dimensão que esta mesma crise atingiu no quadro da crise sistémica do capitalismo internacional.
Crise nacional que Álvaro Cunhal previa e com uma premonitória visão anunciava, em consequência da ofensiva da política de direita que se vinha desenvolvendo contra Abril e as suas conquistas.
Desde muito cedo, já nos idos anos 80 e tendo como horizonte o ano 2000, Álvaro Cunhal, num célebre colóquio de horas, com centenas de jovens na Faculdade de Direito, em diálogo com esses mesmos jovens a quem sempre dedicou uma particular atenção, para valorizar o seu papel e da sua luta na solução dos seus próprios problemas e do país, nos confrontava com as consequências das opções de uma política que não só renunciava às novas perspectivas de desenvolvimento que a Revolução de Abril com as transformações operadas nas estruturas socio-económicas abriam, como pelo contrário seguiam o rumo inverso da sua destruição.
Dizia então “segundo o curso da política nacional, podemos chegar ao ano 2000 em duas situações e duas perspectivas completamente diferentes. Se continua a política que tem sido seguida … (de destruição das transformações democráticas), podemos chegar ao ano 2000 com Portugal ainda mais atrasado (...) mais atrasados relativamente aos países da Europa do que hoje estamos e eventualmente mesmo mais atrasados em termos absolutos.” Trata-se, afirmava, de uma perspectiva sombria de desenvolvimento.
Por isso, contrapunha e afirmava a existência de outra perspectiva, operada na base da Constituição da República e de quatro pressupostos indispensáveis, à cabeça dos quais se encontrava o fim da ofensiva contra as transformações verificadas com a Revolução de Abril, a dinamização de todas as formações económicas indistintamente e da consideração de três grandes linhas orientadoras, que então, Álvaro Cunhal e o seu Partido colocavam para a tarefa prioritária da recuperação económica do país: o aumento da produção nacional (questão vital e eixo fundamental de toda a política de desenvolvimento); o saneamento financeiro ( que hoje, por maioria de razão, implica a renegociação da dívida) e o melhoramento das condições de vida do povo (onde se incluía o aumento do seu poder compra) – três linhas que não se excluem, antes se consideravam compatíveis, complementares e interdependentes. Três linhas que hoje se deviam continuar a considerar inseparáveis, apesar das alterações verificadas e que impõem e exigem outras políticas e medidas de reversão do actual domínio dos poderosos grupos económicos.
A realidade do país que se apresenta nestes primeiros anos do século XXI – regressão acentuada da capacidade produtiva, mais de uma década de prática estagnação e recessão económica, desemprego brutal e regressão social acentuada, aumento inconsiderado da dívida privada e pública, forte e crescente empobrecimento dos portugueses, aumento das desigualdades e da exploração do trabalho – não só confirmam as previsões de Álvaro Cunhal, como são um libelo acusatório contra uma política de desastre nacional, conduzida pelos governos do PSD, PS e CDS.
Uma política que haveria de acabar por entregar os destinos do país à intervenção estrangeira, concretizada num Pacto com o FMI/UE/BCE, a que justamente chamamos de Agressão, promovido pelos mesmos interesses e os mesmos protagonistas que conduziram Portugal à crise que hoje enfrenta. Pacto de Agressão que não só está a levar o país para o abismo, como a arruinar a vida dos portugueses.
Uma evolução desastrosa que não está desligada das opções tomadas de adesão à CEE (hoje União Europeia) e das condições em que tal adesão se realizou.
Uma adesão que tinha como principal objectivo dos seus promotores forçar e justificar a recuperação capitalista em Portugal, como denunciava Álvaro Cunhal e o PCP, e não as proclamadas promessas de ajuda e de vantagens do acesso da nossa economia a um mercado de milhões de pessoas que os seus promotores anunciavam.
Nesta matéria, registemos a justeza das advertências de Álvaro Cunhal “É uma visão idílica imaginar que o Mercado Comum é uma associação de países ricos filantrópicos prontos a «ajudar» os países mais atrasados” e para afirmar depois “Quanto mais se aprofunda o estudo e a análise mais se fortalece a certeza de que a integração de Portugal (..) representaria, a par da restauração dos monopólios, um verdadeiro desastre para a economia portuguesa tal como para a própria independência nacional.”
Os impactos negativos e a acção destruidora desencadeada com a adesão, nos sectores produtivos e nos sectores estratégicos nacionais e as graves limitações e condicionamentos ao desenvolvimento do país, que se tornaram ainda mais perniciosos e trágicos com a adesão ao Euro, aí estão para comprovar a exactidão de tais análises.
Os incessantes aprofundamentos da integração capitalista da União Europeia de expropriação crescente de áreas de soberania, nomeadamente com o Tratado de Lisboa, mas também os novos instrumentos de domínio político como a governação económica e o tratado orçamental, que estão a transformar Portugal num país colonizado e que confirmam igualmente as preocupações e os perigos crescentes para o país e, particularmente para a soberania e independência nacionais.
Perigos que se ampliam com a política de venda do país - do seu património, das suas empresas, dos seus recursos naturais - ao estrangeiro e que é bem a expressão da política de submissão nacional das classes dominantes nacionais.
Independência nacional que assume nas preocupações e pensamento de Álvaro Cunhal um papel destacado, com uma contribuição inestimável na elaboração das orientações do PCP para uma política consequente e de princípios de defesa da soberania e da independência nacionais.
Uma política não isolacionista que defende a cooperação internacional em que decisões internacionais sejam obtidas em pé de igualdade, com reciprocidade de vantagens, com respeito pela independência e soberania dos Estados e povos.
A política nacional e europeia ao serviço do capital monopolista assume hoje, com o actual governo do PSD/CDS e o Pacto de Agressão, uma preocupante dimensão que está a tornar insustentável a vida dos trabalhadores e do povo.
O ano de 2012 saldou-se em mais um ano de profunda recessão que destruiu vidas e emprego, numa dimensão sem precedentes e por uma ofensiva, também ela sem antecedentes contra os rendimentos do trabalho e pensões de reforma, os direitos e prestações sociais que atingiram de forma severa a vida de milhões de portugueses.
Também o ano de 2013 que agora se inicia está já marcado pela perspectiva da concretização, com as medidas previstas no Orçamento de Estado, pelo maior saque fiscal de sempre em democracia, e por novas e ainda mais gravosas medidas de austeridade com cortes e mais cortes nos direitos sociais, nos salários e pensões, nos serviços públicos, dando mais um passo no empobrecimento de milhões de trabalhadores e pensionistas.
Estamos perante uma espiral de medidas de austeridade que seguem umas atrás das outras e que tem, na operação em curso da chamada “reforma do Estado social”, a concretização de levar ainda mais longe a política de empobrecimento generalizado e a liquidação das conquistas sociais do povo português.
Numa lógica que nos traz à memória aquela metáfora que Álvaro Cunhal utilizou, a partir do romance de Jack London que descrevia uma luta entre cães – entre um buldogue e um cão-lobo – para caracterizar o papel do FMI face aos países que lhes caem nas mãos. Ao princípio, o lobo, ágil e agressivo, esquiva-se e assesta várias vezes os dentes no buldogue. Entretanto o buldogue, rápido consegue apanhar com os dentes o pescoço do lobo. Apanha apenas um pouco de pele, mas não o larga mais. O lobo salta, tenta libertar-se, mas o buldogue não o larga e a pouco e pouco avança, apanha mais e mais pêlo do pescoço do lobo, até o estrangular. É assim o FMI, dizia Álvaro Cunhal, hoje dizemos, é assim que age a Troika do FMI e da União Europeia e que tem como ajudante de campo um governo submisso a quem falta a dignidade do cão-lobo e que tudo faz para apressar tal desfecho.
Desfecho que não podemos permitir, com a nossa luta e com a luta do nosso povo!
É por isso que é justa a batalha que travamos pela exigência de ruptura com o Pacto de Agressão e pela renegociação da dívida para libertar o país de tal ameaça!
Mas o que desta evolução ressalta igualmente é a confirmação como verdadeira da tese que afirmava que são inseparáveis e complementares as quatro vertentes principais da democracia: a económica, a social, a política e a cultural, em relação à qual Álvaro Cunhal chamava à atenção. Uma tese que se vulgarizou na expressão “ atacada uma, atacam-se todas”, mas que o rigor de Álvaro Cunhal mostrava, também a partir da nossa própria experiência, ser a económica a determinante. Atacada esta como foi atacada, seguir-se-iam todas as outras, como o têm sido. Veja-se a profundidade do ataque à democracia social – leis laborais, direito à saúde, à educação, à protecção social - , mas também à democracia cultural, tal como à democracia política, que tem no ataque à Constituição da República que hoje assume com o governo de Passos e Portas uma dimensão preocupante e perigosa, quer pela deliberada acção da sua violação na prática, quer pela ofensiva ideológica visando a sua completa subversão.
A grave situação que o país enfrenta e o rumo de declínio e ruína nacional que está em curso com este governo do PSD/CDS e a sua política, coloca como um imperativo da hora presente a ruptura com tal caminho.
Ruptura que implica dar força à luta pela demissão do governo e a devolução da palavra ao povo, em eleições antecipadas.
Luta que assume hoje, tal como no passado, um papel decisivo e determinante.
Luta que, como afirmava Álvaro Cunhal, é o motor que faz avançar os acontecimentos e a roda da história. Difícil, sem dúvida, enfrentando poderosos meios, naturalmente, mas sempre o único caminho para levar de vencida a realização de um Portugal de progresso e de futuro.
Do valioso e imenso legado que nos deixou, está esse combate central de denúncia do capitalismo como sistema explorador e opressor e a convicção com que afirmava o socialismo como a alternativa e a mais sólida perspectiva de evolução da Humanidade
Aqui no país e no movimento comunista internacional, cujas experiências e processos acompanhava com atenção, solidariedade e reflexão independente.
Isso está patente na concepção de socialismo que o nosso Programa consagra.
Uma concepção que é produto do pensamento próprio do Partido, mas que tem o seu valioso contributo e que está expresso na definição do conjunto de características que o projecto socialista deve assumir e na sua e nossa afirmação de sempre que não há “modelos” de revolução, nem “modelos” de socialismo.
Uma concepção de socialismo que responde às especificidades nacionais e leva também em conta as lições da experiência revolucionária mundial.
Uma concepção que parte das leis gerais de edificação socialista e dessas experiências, para afirmar um projecto socialista para Portugal.
Esse projecto onde se expressam como objectivos fundamentais da revolução socialista, a abolição da exploração do homem pelo homem, a democracia em todas suas vertentes, a intervenção permanente e criadora das massas populares, a elevação constante do bem-estar material e espiritual dos trabalhadores e do povo em geral, o desaparecimento das discriminações, desigualdades, injustiças, a concretização de uma vida de igualdade de direitos do homem e da mulher e a inserção da juventude na vida do país, entre outras, e se definem em cinco grandes áreas - no sistema político, no sistema económico, no sistema social, na plano da cultura e no plano ético - as características desse projecto.
Num momento em que o capitalismo está mergulhado numa das mais profundas crises da sua história, a necessidade e actualidade do ideal e projecto socialista afirma-se como a solução no futuro dos povos, também a obra e o pensamento de Álvaro Cunhal se projecta como um contributo inestimável na conquista desse horizonte de realização e emancipação humana.
Figura notável do nosso tempo, em todo o seu exemplo de combatente transparece um desejo de futuro e de confiança. Desejo de futuro de realização desse sonho milenar da construção de uma sociedade liberta da exploração do homem por outro homem. De confiança nos trabalhadores, no povo, na sua capacidade de construir a história com a sua luta e dar corpo ao sonho que continua a alimentar e dar sentido às nossas vidas!


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

PCP condena a intervenção militar estrangeira em curso no Mali


Nota do Gabinete de Imprensa do PCP

PCP condena a intervenção militar estrangeira em curso no Mali

A intervenção militar em curso no Mali, protagonizada pela França e envolvendo outras potências imperialistas, é indissociável da deriva militarista e intervencionista da NATO, da União Europeia e das suas principais potências que, num quadro de aprofundamento da crise do capitalismo e na sequência de vários processos de incremento da ingerência externa, de militarização do continente – de que se destaca o Comando Militar norte-americano para África AFRICOM – e de desestabilização de vários países, visam acentuar o domínio económico, político e geo-estratégico do imperialismo neste continente e pôr em causa a soberania e integridade territorial de vários dos seus Estados.
A intervenção militar no Mali, desencadeada mais uma vez sobre o pretexto do “combate aos terroristas islâmicos”, nomeadamente a grupos que como é público colaboraram activamente na agressão e invasão imperialistas da Líbia, é indissociável dos planos de várias potências imperialistas, nomeadamente a França, de reconstruir a sua teia de domínio colonial destruída por décadas de luta dos povos africanos, controlar e explorar os abundantes recursos naturais da região, e em particular do Mali, nomeadamente o petróleo e outra riquezas do subsolo como o Urânio.
A situação interna no Mali é, à semelhança de outras situações, quer no continente africano quer noutras regiões do globo, o resultado concreto da estratégia imperialista de instigação de conflitos sectários, religiosos e étnicos que, servindo de pretexto para a agressão e ocupação militares imperialistas, é em si mesma a origem do fortalecimento dos radicalismos religiosos e do terrorismo.
É à luz deste contexto que deve ser lido o conflito interno no Mali. Um conflito que por via da intervenção estrangeira poderá estender-se a outros países da região nomeadamente a Argélia. A situação interna do Mali só terá solução no quadro do respeito pela soberania e integridade territorial do País, livre de ingerências e intervenções militares externas.
O PCP deplora a posição do Governo português que invocando a defesa da estabilidade e integridade territorial do Mali, bem como a paz e seguranças regionais, apoia uma intervenção militar que apenas servirá para introduzir maiores elementos de instabilidade naquele País e na região.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Sobre as notícias referentes à reforma da Presidente da Câmara Municipal de Palmela


Nota do Gabinete de Imprensa do PCP

Sobre as notícias referentes à reforma da Presidente da Câmara Municipal de Palmela

Na sequência de várias solicitações sobre as notícias referentes à reforma da Presidente da Câmara Municipal de Palmela, o Gabinete de Imprensa do PCP torna público:
Perante uma decisão pessoal, com as responsabilidades individuais daí decorrentes quanto ao seu esclarecimento, independentemente das prerrogativas que resultem da aplicação de critérios legais em vigor, o PCP afirma a sua oposição a regimes legais como aquele que facultou a contagem a dobrar de tempo para efeitos de reforma no exercício de funções políticas, expressa na votação em 2005 no sentido da sua eliminação.

PCP propõe a suspensão da constituição de novos agrupamentos escolares

 
Intervenção de Miguel Tiago na Assembleia de República
PCP propõe a suspensão da constituição de novos agrupamentos escolares
Quinta 10 de Janeiro de 2013
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Projecto de Lei N.º 328/XII-2.ª
Sexta 4 de Janeiro de 2013
No debate em torno do Projecto de Lei do PCP que propõe a suspensão da constituição de novos agrupamentos escolares e estabelece o regime jurídico da reversão dos processos em curso, Miguel Tiago afirmou que a política educativa deste governo apenas procura destruir a escola pública conquista de Abril.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Relatório FMI sobre reforma do Estado em Portugal

Relatório FMI sobre reforma do Estado em Portugal

Pergunta Escrita de João Ferreira e Inês Zuber no Parlamento Europeu

Relatório FMI sobre reforma do Estado em Portugal



Foi hoje conhecida a versão de um relatório elaborado pelo FMI intitulado "Portugal. Rethinking the State - selected expenditures reform options", datado de Janeiro de 2013, estudo esse solicitado pelo Governo Português. Este relatório contém recomendações para uma "reforma" do Estado que, entre outras, incluem: cortes de 20% nas pensões da função pública, um novo aumento das taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde, corte de serviços gratuitos no Serviço Nacional de Saúde, cortes nas remunerações das horas extraordinárias pagas aos médicos, aumento do valor das propinas no ensino superior, despedimento de 50 mil professores, redução do montante e período temporal de usufruto do subsídio de desemprego, o aumento da idade da reforma.

Como sabemos, o FMI , a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu assinaram conjuntamente com o Governo Português um "memorando de entendimento" enquadrado num programa de assistência financeira que continha já várias medidas ditas de austeridade que, tendo retirado direitos e rendimentos aos trabalhadores portugueses, não resolveram, mas agravaram a situação económica e social do país.

Em face do exposto, solicitamos à Comissão Europeia que nos informe sobre o seguinte:

1. Pretende continuar a aprofundar as medidas impostas ao povo português que têm implicado a retirada de direitos sociais e laborais, a destruição das funções sociais do Estado e o aumento do desemprego?

2. Pretende, no futuro, sugerir alterações às medidas contidas no "Memorando de Entendimento" no sentido das medidas que o FMI sugere no relatório citado?

3. Que ilações retira dos resultados profundamente negativos da aplicação das medidas contidas no "Memorando de Entendimento" que têm conduzido à recessão económica, à destruição massiva de postos de trabalho e ao generalizado agravamento dos problemas sociais e económicos do país?

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

2013 – Novo ataque aos rendimentos dos reformados


Conferência de Imprensa, Fernanda Mateus, membro da Comissão Política do Comité Central do PCP , Lisboa

2013 – Novo ataque aos rendimentos dos reformados


1 - O PCP destaca que, em resultado do Pacto de Agressão e do Orçamento do Estado para 2013 indevidamente promulgado pelo Presidente da República, os reformados, pensionistas e idosos são alvo de novo ataque aos seus rendimentos, com a imposição de medidas que, mais uma vez, irão reduzir o valor das suas reformas e pensões.
As reformas, enquanto rendimentos substitutivos do trabalho, representam o principal meio de subsistência para a grande maioria dos reformados e pensionistas. Daí que o congelamento da sua actualização anual# pelo terceiro ano consecutivo, a par das diversas formas de cortes no valor das reformas adoptados em 2012 e 2013 para todos os que têm mais de 600 euros de pensão, e que as troikas passaram a considerar reformados com pensões elevadas, assuma consequências sociais gravíssimas.
Este ataque, combinado com o agravamento da carga fiscal em sede de IRS, com o aumento dos preços de bens e serviços essenciais, das despesas com a saúde, das rendas de casa e facilitação de despejo, significará que a grande maioria dos reformados, neste ano de 2013, verá ainda mais deterioradas as suas condições de vida.
Um quadro de regressão nas condições de vida e nos direitos deste grupo social, que justifica o reforço da sua luta na condenação do Orçamento do Estado para 2013 e do Pacto de Agressão, que estão a destruir o conjunto de funções sociais essenciais para garantir a sua autonomia económica e social, tal como a Constituição da República consagra.
Novas mistificações em torno do aumento das pensões mínimas
2 - O Ministro Mota Soares afirmou no primeiro dia do ano que, entre 2012 e 2013, a pensão mínima passou de 246 para 256 euros para enfatizar o aumento de 140 euros, omitindo, deliberadamente, o que verdadeiramente importaria dizer aos reformados e pensionistas a propósito da Portaria# publicada relativa à actualização das pensões para 2013.
A verdade é que a referida pensão mínima teve, em três anos (2011/2013),um aumento médio anual de 3,47 euros e que o seu valor passará para 256 euros em 2013, ou seja terá um acréscimo diário de nove cêntimos (2,79 euros/mês).
O PCP sublinha ainda que estes míseros cêntimos de actualização em algumas das pensões mínimas (quadro em anexo) só abrangerão um número muito restrito de pensionistas, para em contrapartida se confirmar, pelo terceiro ano consecutivo, a opção pelo congelamento de todas as pensões mínimas para carreiras superiores a 15 anos no Sistema Público de Segurança Social e com mais de 18 anos no âmbito da Caixa Geral de Aposentações cujos montantes oscilam entre os 274,79 e os 404,44 euros.
Trata-se de uma inequívoca desvalorização do valor de uma carreira contributiva de milhares de reformados e pensionistas que vivem com reformas abaixo do limiar da pobreza, a que acresce a perda de eficácia no combate à pobreza entre idosos abrangidos pelo regime não contributivo da segurança social e equiparado, cujo valor da pensão social de velhice e invalidez passará de 195,40 para 197,55 euros em 2013.
A propaganda em torno do aumento das pensões mínimas por parte do Ministro do CDS-PP assume uma escandalosa ligeireza que atenta contra a dignidade dos reformados e pensionistas que são obrigados a sobreviver com pensões baixíssimas e um despudorado uso de demagogia, o que, sendo apanágio do CDS-PP, é inaceitável num membro do Governo. Tais afirmações confirmam a insensibilidade e o desprezo do actual Governo PSD/CDS-PP perante as consequências devastadoras das políticas em curso, políticas que geram uma dramática espiral de pobreza e de empobrecimento dos reformados e pensionistas, homens e mulheres que após uma vida de trabalho se vêem sem dinheiro para uma alimentação condigna, para pagarem a luz, a água, comprarem medicamentos, ou terem acesso aos transportes públicos.
A desvalorização de uma carreira contributiva,do direito à reforma e a uma pensão digna
3 - As recentes declarações do Primeiro-Ministro para justificar os cortes nas pensões visam iludir que as pensões são um direito de todos aqueles que ao longo da sua vida de trabalho cumpriram as regras legais a que estiveram sujeitos os trabalhadores por conta de outrem, e que, em Portugal, o que predomina são reformas e pensões baixíssimas.
Em 2010, a Conta da Segurança Social revelava que mais de 1 milhão e 566 mil pensionistas tinham um valor de pensão até 628 euros (e, destes, 1 milhão e 177 mil recebiam entre 246 e 419 euros); 223 mil pensionistas recebiam valores entre 628 e 2500 euros; e apenas 11 mil pensionistas recebiam pensões superiores a 2500 euros.
Em Dezembro de 2011, o Relatório de Contas da Caixa Geral de Aposentações refere que dos 453 mil aposentados e reformados 50% recebem pensões até 1000 euros (e, destes, 21,1% recebem pensões iguais ou inferiores a 500 euros); 27% recebem entre 1000 e 2000 euros (e, destes, 17,4% recebem até 1500 euros); 11,5% recebem entre 2000 e 2500 euros; 11,5% recebem mais de 2500 euros (e, destes, 8,1% recebem até 3000 euros e 1,2% tem pensões superiores a 4000 euros).
O que verdadeiramente está em causa é a ocultação de que o Pacto de Agressão, subscrito pelo PS, PSD e CDS-PP, está a gerar uma dupla penalização do conjunto dos reformados e pensionistas do sector público e privado, combinando o congelamento das actualizações anuais das pensões com cortes parciais e totais nos subsídios de férias e de natal, cortes de 3,5% nas pensões de 1350 euros e que pode atingir 40% nas pensões mais elevadas. Trata-se de impor um empobrecimento generalizado a este grupo social, aumentando largamente situações de pobreza extrema entre idosos.
Entretanto, os trabalhadores que passaram à condição de reformados desde 2008 são fortemente penalizados pela redução do valor das suas reformas por via da aplicação do factor de sustentabilidade, que veio impor a redução do valor da reforma aos 65 anos, que passou de 0,56% para 4,78% em 2013, a par da suspensão da antecipação da idade de reforma aos trabalhadores do sector privado mesmo para quem tenha 40 e mais anos de descontos para a segurança social.
O caminho é de luta pela rejeição do Pacto de Agressão
O PCP destaca que o Pacto de Agressão imposto pela troika internacional (BCE, UE e FMI) e subscrito pela troika nacional (PS, PSD e CDS-PP) serve-se da crise, do défice e da dívida para impor um caminho de inaceitável retrocesso nos direitos de protecção social na velhice, visando institucionalizar baixos valores de reformas pagas pelo Sistema Público de Segurança Social, o aumento da idade de reforma para os trabalhadores no activo, a redução dos custos do trabalho para o grande capital (redução de salários e desvinculação para com o financiamento da segurança social) e o fomento dos fundos privados de pensões, num processo de desresponsabilização do Estado por funções sociais insubstituíveis para garantir o direito a envelhecer com dignidade e com direitos.
Uma outra política é urgente e necessária em defesa do envelhecimento com direitos. Uma política assente na produção nacional, na criação de emprego, na valorização dos salários e das reformas, alicerces fundamentais numa estratégia de desenvolvimento económico e social que liberte o país da dependência externa, que promova o combate à pobreza, designadamente o bem-estar da população, retirando milhares de reformados da pobreza, e que consolide a situação financeira da Segurança Social de forma a permitir-lhe assegurar a sua vocação constitucional.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Banif – um novo BPN


Nota do Gabinete de Imprensa do PCP

Banif – um novo BPN

Sábado 5 de Janeiro de 2013
1 -A comunicação social tem vindo a divulgar nos últimos dias, que o governo terá decidido realizar uma operação financeira, recorrendo a capitais públicos, de recapitalização do Banif num valor superior a 1100 milhões de euros. A ser assim, confirma-se o que o PCP há muito tem dito sobre a verdadeira natureza da crise económica e social em que o País está mergulhado e quem dela se serve.
Aos trabalhadores, aos reformados e pensionistas, aos pequenos e médios empresários, ao povo português em geral, o governo impõe sacrifícios, reduz-lhes os rendimentos através do roubo dos salários e do aumento brutal dos impostos, aos banqueiros mantém-lhes os benefícios fiscais e recapitaliza-lhes as empresas com dinheiros públicos. Ao contrário da história do herói mítico, este Robin Wood dos novos tempos (governo PSD/CDS-PP), rouba aos pobres para dar aos ricos.
É inaceitável que precisamente no momento em que é promulgado o Orçamento do Estado para 2013 -o pior orçamento desde o fascismo – que contempla um brutal aumento de impostos com o argumento de que o País precisa de reduzir o défice das contas públicas através da redução da despesa do Estado, o governo negocie com a administração do Banif uma operação financeira de recapitalização do banco com dinheiros públicos. Um autêntico brinde de Natal oferecido em bandeja de ouro aos accionistas do Banif, os mesmos que durante anos sacaram centenas de milhões de euros de lucros do Banco. Só na primeira década do novo milénio este Banco teve de lucros líquidos 508,4 milhões de euros e entregou aos seus accionistas de dividendos 216 milhões de euros (41% do total de lucros), o que é muito dinheiro para um banco da dimensão do Banif.
2 -De acordo com o que tem sido divulgado, a operação financeira de 1 100 milhões de euros inclui a compra de acções do Banco, ficando o Estado português detentor da quase totalidade do Banco e um empréstimo no valor de 400 milhões de euros (só esta parte vence juros). Vale a pena lembrar que estando este Banco cotado em Bolsa o seu valor bolsista é hoje de apenas 83 milhões de euros, mas o Estado decide injectar 13,3 vezes esse valor.
Tal como aconteceu com o BPN, o governo prepara uma «nacionalização» temporária cujo objectivo é, mais uma vez, resolver os problemas do banco e depois entregá-lo limpinho para que os seus accionistas continuem a sacar os seus lucros. Vamos certamente assistir a um processo de transferência dos prejuízos de uma entidade privada para as contas do Estado, prejuízos acumulados nestes dois últimos anos em resultado de uma gestão irresponsável e determinada pelos ganhos da especulação financeira.
Esta é uma falsa nacionalização em que o alto risco será coberto pelo dinheiro dos contribuintes. O banco não só não tem activos suficientes como dificilmente vai gerar proveitos aceitáveis para devolver o dinheiro ao Estado. Acresce que o Estado fica em posição maioritária mas só pode nomear um administrador não executivo. E um membro para o conselho fiscal. Uma vergonha!
Este é o mesmo banco que já depois de ter encerrado 17 balcões em 2011 e despedido mais de 120 trabalhadores, anunciou o encerramento de mais 50 balcões com o despedimento de mais 160 trabalhadores. Ou seja, também no Banif, tal como está a acontecer no BCP e no BPI, o Estado financia com dinheiros públicos ( a concretizar-se esta operação serão mais de 7 mil milhões de euros nestes três bancos) processos de reestruturação que incluem o despedimento de milhares de trabalhadores, ao mesmo tempo que reduz para 12 dias de salário por ano de trabalho, a indemnização por despedimento, aos trabalhadores por conta de outrem.
3 – A solução para os problemas do sector financeiro em Portugal não passa por injectar dinheiros públicos em empresas cuja existência e gestão são determinadas pelo lucro fácil e especulativo, e muito menos através de falsas nacionalizações que apenas garantem a transferência dos prejuízos dessas empresas para a órbita do Orçamento do Estado.
Como o PCP há muito vem defendendo, a recuperação do comando político e democrático do processo de desenvolvimento, com a subordinação do poder económico ao poder político democrático, coloca na ordem do dia a necessidade de um sector público forte e dinâmico, especialmente em sectores estratégicos da economia, como é o caso do sector financeiro, e designadamente em relação à banca comercial.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Sobre o aumento dos preços de bens e serviços públicos e as condições de vida dos trabalhadores e do povo


Sobre o aumento dos preços de bens e serviços públicos e as condições de vida dos trabalhadores e do povo
Quarta 2 de Janeiro de 2013

À brutal redução dos rendimentos da grande maioria dos portugueses em resultado da entrada em vigor do Orçamento do Estado para 2013 – o pior desde o fascismo – junta-se desde de ontem o aumento generalizado dos preços dos bens e serviços essenciais.
O País e os portugueses estão confrontados com uma forte quebra nos seus rendimentos devido a um Orçamento do Estado inconstitucional caracterizado: por incorporar um brutal aumento da carga fiscal sobre os trabalhadores e as famílias, bem visível na subida do IRS e do IMI; pelo congelamento salarial na Administração Pública; pelos congelamentos e reduções das pensões e das reformas; pelas reduções salariais no sector privado, mas também, pelos aumentos de muitos bens e serviços essenciais, bem acima da taxa de inflação prevista que é actualmente de 0,9%, para além do impacto da entrada em vigor da nova lei dos despejos.
Tal como o PCP tem vindo a denunciar, com uma política que soma austeridade à austeridade, a economia nacional afunda-se numa espiral recessiva que conduzirá a mais recessão com o inevitável aumento do volume de falências e o crescimento significativo do número de desempregados e, apesar de todos os sacrifícios que têm vindo a ser impostos aos trabalhadores e ao povo português, não será resolvido nenhum dos principais problemas que o País enfrenta.
Preços que aumentam não apenas pela entrada em vigor do OE, mas porque, ao mesmo tempo que se agrava a exploração dos trabalhadores e se reduzem os seus rendimentos, há uma opção evidente por parte do governo de favorecimento dos grupos económicos nacionais e transnacionais, criando as condições para que estes continuem a ter lucros fabulosos, de que são exemplo sectores com as empresas de produção e fornecimento de energia eléctrica, do gás, dos combustíveis, das telecomunicações, da banca ou do sector da grande distribuição.
No sector da saúde, numa altura em que alguns indicadores confirmam as dificuldades de acesso de um número crescente de portugueses aos cuidados de saúde, comprovadamente devido aos custos das taxas moderadoras e da política de racionamento de cuidados, situação que está a levar à degradação dos níveis de saúde da população com custos muito significativos para o país no futuro, o governo decide aumentar em média 0,9% o preço das taxas moderadoras.
O apelo aos portugueses feitos pelo Secretário de Estado da Saúde, para que as pessoas recorram menos aos serviços de saúde, é um acto criminoso de quem quer a compreensão para novos cortes no SNS e mais custos com a saúde para os utentes.
Com uma política energética e de telecomunicações completamente subordinada aos interesses dos grupos monopolistas, num quadro marcado pela transferência da propriedade das principais empresas e das infra-estruturas para as mãos de grupos internacionais, lesando desta forma o interesse nacional, empresas como a EDP, REN, Galp e PT que tiveram lucros superiores a 1240 milhões de euros até ao final do terceiro trimestre de 2012, o governo decide aumentar o preço da energia eléctrica em 2,8% e do gás natural em 2,5%.
Num contexto de cessação das tarifas reguladas (a efectuar até 2015) para todos os consumidores de electricidade e gás natural, incluindo a generalidade dos pequenos consumidores, decisão que, ao contrário do que o governo anuncia, não vai trazer a prometida livre concorrência, mas a mais pura e dura cartelização dos preços, tal como o PCP denunciou na devida altura, «estes aumentos constituem mais um roubo ao povo e um rude golpe na economia nacional».
Nos transportes e após sucessivos aumentos nos últimos dois anos – entre Dezembro de 2010 e Fevereiro de 2012 o aumento real dos transportes foi entre 25% e 140% - o governo decide agora um novo aumento que em alguns casos chega a atingir os 20,7% consoante o título de transporte utilizado, a zona de validade e o carácter modal ou multimodal do mesmo. Decisão que tem lugar num contexto da chamada reestruturação das empresas com uma redução clara da oferta e, em muitas situações, da redução da qualidade do transporte. Aumentos a que se junta o de 2,03% nas portagens, penalizando todos aqueles que exercem a sua actividade profissional em regiões onde o transporte público não chega ou é claramente insuficiente e por isso a deslocação é realizada em viatura própria.
De destacar ainda o aumento de 3% nas telecomunicações, quando só a PT atingiu os 190 milhões de euros de lucro, só nos primeiros nove meses do ano de 2012.
Não pode haver nem aceitação nem compreensão para estes aumentos que constituem um saque ao povo português.
De acordo com o inquérito às despesas familiares relativo aos anos 2010/2011, publicado recentemente pelo INE, a despesa média por família com a habitação – renda da casa, electricidade, gás e água – atingia quase 1/3 do orçamento familiar e a despesa com os transportes 14,5%. Ou seja, se considerarmos a redução dos rendimentos em 2012 e 2013 e os aumentos de preços nestes dois anos, então podemos concluir que em média uma família portuguesa já gasta em habitação e transportes cerca de 50% do orçamento familiar.
Em consequência desta política, que é parte integrante de um processo de empobrecimento geral do País, centenas de milhar de portugueses, impedidos de acederem a bens e serviços de primeira necessidade, serão empurrados para a pobreza e a doença.
Por mais veementes que sejam os apelos à caridade, a solução para tirar o País do rumo de desastre económico e social, não passa por aí, mas pela rejeição do Pacto de Agressão e pela exigência de uma política patriótica e de esquerda.
Confirmando as sucessivas denúncias do PCP, os últimos dias vieram uma vez mais dar razão àqueles que, como nós, sabem que é por servir os interesses da banca e dos grupos económicos que o governo está a empurrar o país para o abismo.
Os mais de mil e cem milhões de euros de recursos públicos que o governo anunciou que irá meter no Banif confirmam que cada euro que está a ser roubado aos trabalhadores e ao povo português tem um só destino: os bolsos dos banqueiros e demais capitalistas que se julgam donos do País.
Com a consciência de que, a prosseguir a actual política, o ano de 2013 se apresenta como um ano ainda pior para a generalidade dos trabalhadores e do povo português, reafirmamos a determinação do PCP de tudo fazer para derrotar esta política e este governo o mais depressa possível.