sexta-feira, 8 de maio de 2015

ENVC: PCP repudia posição da Comissão Europeia e atitude de capitulação do governo português






Nota do Gabinete de Imprensa do PCP

 
ENVC: PCP repudia posição da Comissão Europeia e atitude de capitulação do governo português

 
Fundamentação da posição assumida relativamente aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo

8 Maio 2015

Face à nota de imprensa da Comissão Europeia, em que esta considera ilegal o investimento do Estado português nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) no valor de 290 milhões de euros, realizado entre os anos de 2006 e 2011, intima a ENVC, S.A a devolver esse montante e isenta explicitamente o actual concessionário (WestSea), o PCP considera o seguinte:

1- Trata-se em primeiro lugar de uma inaceitável ingerência da União Europeia na soberania do Estado português e no seu inalienável direito de decidir sobre a defesa, valorização e desenvolvimento dos seus sectores e empresas estratégicas. Uma posição que deve ser veementemente rejeitada e que evidencia o papel da UE como estrutura ao serviço dos monopólios e que confirma a deliberada intervenção das instituições europeias no processo de desmantelamento do aparelho produtivo de países como Portugal.

2- A reacção do governo português a esta notícia, pela voz do Ministro Aguiar Branco - que não só não questionou esta inaceitável posição da Comissão Europeia, como é seu direito e dever, como ainda procurou justificar, com esta decisão, o criminoso processo de liquidação dos Estaleiros e da sua entrega aos grupos Martinfer e Navalria - constitui mais uma demonstração de completa submissão do Governo perante a União Europeia, de abdicação da defesa dos interesses nacionais e de absoluto desprezo pelo aparelho produtivo nacional e o sector da construção naval.

3- Ao contrário do que o governo e a União Europeia afirmam, o apoio do Estado português a empresas públicas estratégicas não só não constitui qualquer ilegalidade, como, tal como o PCP sempre defendeu, a obrigação do Governo era a da manutenção desta empresa e o seu desenvolvimento no âmbito do sector empresarial do Estado.

As posturas da Comissão Europeia e do próprio Governo deixam ainda bem claro a sua política de dois pesos e duas medidas: máxima restrição e tentativa de impedimento nos apoios dados a empresas públicas, particularmente dos países mais fragilizados da UE; milhares de milhões de euros para as grandes multinacionais por via dos orçamentos dos Estados-Membros com volumosos benefícios fiscais, dos fundos comunitários e de outros recursos públicos.

4- O PCP reclama do governo português uma atitude de firme e enérgica contestação a esta anunciada decisão – tal como vários outros Estados-Membros, perante situações idênticas, fizeram no passado - não admitindo qualquer tipo de devolução dos valores entregues e levando a contestação à decisão da Comissão Europeia até às últimas consequências. Não sendo ainda conhecida a decisão integral da Comissão Europeia nem a sua fundamentação, os deputados do PCP no Parlamento Europeu dirigiram hoje mesmo por escrito à Comissão Europeia um conjunto de questões a este respeito.

O PCP reafirma a necessidade do Estado português recuperar o controlo público dos ENVC, colocando-o ao serviço da economia nacional, criando emprego, promovendo a construção naval respondendo a necessidades do País e a encomendas estrangeiras, num quadro de uma gestão pública que, em vez de comprometida com a privatização da empresa, como aconteceu ao longo de anos, esteja vinculada a um projecto de modernização e de futuro dos Estaleiros.