ARTIGO DE OPINIÃO
Por:
Sandra Margarida Fernandes
Eleita CDU na Assembleia Municipal
As Feiras
Novas do Século XXI e as características genuínas e populares das nossas gentes
A Romaria das
Feiras Novas do século XXI atingiu enormes afluências de festeiros que têm sido
o único suporte das características remotas e genuínas da componente popular
desde os inícios (século XIX, ano de 1826) deste evento de marca do Concelho de
Ponte de Lima.
Alguns são os
séculos na vida das nossas Feiras Novas, uma tradição que naturalmente sofreu
algumas alterações e modernizações com a evolução dos tempos. No entanto as
Feiras Novas deixaram de ser a representação do Minho tradicional para passarem
a ser uma homenagem à marca de bebidas do seu patrocinador. Quando se transforma
uma tradição num comércio perde-se a essência genuína de características
populares das nossas gentes.
Evoluem os
tempos, mas a adaptação destas festas à enorme procura não se ajustou. É
confrangedora a carência de meios físicos estruturais e a deficiente
planificação organizativa dos espaços pedonais que não evoluíram em paralelo
para abarcar e comportar o grande número de visitantes que todos os anos nos
procura nesta altura.
O mesmo se
poderá dizer quanto ao processo evolutivo que esta romaria deveria e mereceria
ter tido em aspectos da sua concepção, desde a atribuição e ordenamento da
ocupação dos terrados, na implantação de infra-estruturas sanitárias, nos
cuidados de higiene e limpeza e fundamentalmente quanto ao brilhantismo e rigor
do seu programa. Estes aspectos essenciais, inevitavelmente, terão que ser
tomados em conta como necessários a uma criteriosa reflexão sobre as exigências
da nova realidade das nossas festas concelhias, no atual contexto, tendo como
preocupação primeira manter as características genuínas de autenticidade
populares das nossas gentes e da nossa urbe e a valorização dos nossos produtos
autóctones e endógenos.
É também de
importância maior a necessidade da criação de um projeto de segurança que
permita acudir a qualquer eventualidade de incidentes ou acidentes,
considerando que o ordenamento da ocupação de espaços em toda a zona envolvente
das festas limianas é cada vez mais caótico. Nunca é demais prevenir. A
ordenação dos espaços na minha opinião, não prevê a possibilidade de acontecer
algum incidente, porque o que se tem presenciado é a ocupação mais ou menos
desregrada dos mesmos o que leva que em muitos locais da Vila haja uma
concentração de pessoas apertadas entre os espaços ocupados pelas várias
diversões e feirantes.
Pronunciei-me
em tempos recentes na assembleia municipal, que de ano para ano é constatado
que a Romaria das Feiras Novas está em submissão total aos interesses
financeiros do patrocinador e de outros, e frisava: enquanto durar esta
parceria de submissão as feiras novas limianas perderão cada vez mais as suas
características genuínas, tradicionais e populares, passarão a ser mais umas
festas tipo festivaleiro; e defendia que a AEPL - Associação Empresarial de
Ponte de Lima deve assumir urgentemente um papel destacado na concepção e
realização desta romaria no sentido de poder contribuir conjuntamente com os
comerciantes da Vila (e como é urgente ouvir e saber ouvir as inquietudes dos
comerciantes) para uma nova realidade das nossas festas concelhias.
Participando
com prazer no desafio lançado pelo centenário Jornal Cardeal Saraiva, aproveito
esta iniciativa, para levar ao conhecimento da população limiana a apreciação
do meu Camarada Acácio Pimenta, fervoroso limiano apaixonado das feiras novas e
conhecedor atento das nossas tradições populares e genuínas, exposta há cerca
de quatro anos em Sede Municipal, que a meu ver são ideias atualizadíssimas e
naturalmente contributos importantes a serem considerados para introduzir
qualidade, perfeição, beleza e rigor ao maior evento de noite e de dia em Ponte
de Lima:
- Cortejo
etnográfico - este cortejo tem deixado muito a desejar quanto à sua
organização, desde o grande espaço entre as representações das freguesias, até
ao ponto de os figurantes se apresentarem vestidos com trajes regionais sem
rigor, não obedecendo à retratação tradicional genuína. Toda a mostra dos usos
e costumes do Concelho de Ponte de Lima torna-se tão pobre que não espelha todo
o empenho e trabalho que as freguesias tem na elaboração dos quadros
apresentados;
- Os Cortejos
- criando muitas expectativas aos festeiros naturais e aos visitantes não têm
correspondido nem de perto nem de longe ao esperado. Como Identidade de Ponte
de Lima os quadros representados por vezes têm tido muito pouco dessa
identidade e de concepção muito pobre em várias ocasiões, a organização dos
desfiles tem sido descoordenada, com grandes espaços de número para número,
devido à utilização e à dificuldade de circulação de carros de grande porte o
que retira beleza, qualidade e impacto aos cortejos;
- Estes
números do programa das festas são presenciados por um grande número de pessoas
é necessário que haja maior rigor e cuidado na sua elaboração e apresentação;
- A
proliferação por qualquer canto e esquina de todo o tipo de balcões
cervejeiros, inclusive, até, em portas e janelas que se transformam em bares,
não contribuem para a dignidade e qualidade que este evento deve ter e
merece;
- A
necessidade de dar mais realce e valor à corrida de garranos, não a fazendo
coincidir com qualquer outro número das festas;
- A
necessidade de maior destaque ao desfile do gado bovino;
- A
necessidade de inovar a apresentação do Festival de Folclore;
- No fim dos
desfiles dos cortejos é necessário que haja imediata limpeza do itinerário
percorrido.
Defendo
vigorosamente que é urgente e imperioso que todos os intervenientes da
organização das feiras novas; o Município na qualidade de Presidente da
Comissão de Festas, a AEPL – Associação Empresarial de Ponte de Lima, o
representante dos Presidentes de Junta de Freguesia, as entidades culturais e
associativas, sentarem-se á volta de uma mesa para uma reflexão profunda, que
no nosso entender é necessária fazer para construir uma nova realidade deste
evento preservando as suas características genuínas e populares realçando o que
de melhor a nossa terra tem para dar e mostrar produzido pela generosidade e
labuta do povo limiano.
Esperemos com
esperança que em breve a nossa maior romaria popular tenha sido restituída da
sua originalidade e do mais genuíno das tradições das suas gentes e não estejam
mercantilizadas pelos interesses económicos e financeiros exclusivos de
qualquer patrocinador, relegando para segundo plano os produtos autóctones e
endógenos de importância maior para a economia e imagem de marca do Concelho.
Ponte de Lima,
28 de Agosto de 2014