quarta-feira, 17 de setembro de 2014

As Feiras Novas do Século XXI e as características genuínas e populares das nossas gentes



ARTIGO DE OPINIÃO
Por:
Sandra Margarida Fernandes
Eleita CDU na Assembleia Municipal

As Feiras Novas do Século XXI e as características genuínas e populares das nossas gentes

A Romaria das Feiras Novas do século XXI atingiu enormes afluências de festeiros que têm sido o único suporte das características remotas e genuínas da componente popular desde os inícios (século XIX, ano de 1826) deste evento de marca do Concelho de Ponte de Lima.

Alguns são os séculos na vida das nossas Feiras Novas, uma tradição que naturalmente sofreu algumas alterações e modernizações com a evolução dos tempos. No entanto as Feiras Novas deixaram de ser a representação do Minho tradicional para passarem a ser uma homenagem à marca de bebidas do seu patrocinador. Quando se transforma uma tradição num comércio perde-se a essência genuína de características populares das nossas gentes.

Evoluem os tempos, mas a adaptação destas festas à enorme procura não se ajustou. É confrangedora a carência de meios físicos estruturais e a deficiente planificação organizativa dos espaços pedonais que não evoluíram em paralelo para abarcar e comportar o grande número de visitantes que todos os anos nos procura nesta altura.

O mesmo se poderá dizer quanto ao processo evolutivo que esta romaria deveria e mereceria ter tido em aspectos da sua concepção, desde a atribuição e ordenamento da ocupação dos terrados, na implantação de infra-estruturas sanitárias, nos cuidados de higiene e limpeza e fundamentalmente quanto ao brilhantismo e rigor do seu programa. Estes aspectos essenciais, inevitavelmente, terão que ser tomados em conta como necessários a uma criteriosa reflexão sobre as exigências da nova realidade das nossas festas concelhias, no atual contexto, tendo como preocupação primeira manter as características genuínas de autenticidade populares das nossas gentes e da nossa urbe e a valorização dos nossos produtos autóctones e endógenos.
É também de importância maior a necessidade da criação de um projeto de segurança que permita acudir a qualquer eventualidade de incidentes ou acidentes, considerando que o ordenamento da ocupação de espaços em toda a zona envolvente das festas limianas é cada vez mais caótico. Nunca é demais prevenir. A ordenação dos espaços na minha opinião, não prevê a possibilidade de acontecer algum incidente, porque o que se tem presenciado é a ocupação mais ou menos desregrada dos mesmos o que leva que em muitos locais da Vila haja uma concentração de pessoas apertadas entre os espaços ocupados pelas várias diversões e feirantes.

Pronunciei-me em tempos recentes na assembleia municipal, que de ano para ano é constatado que a Romaria das Feiras Novas está em submissão total aos interesses financeiros do patrocinador e de outros, e frisava: enquanto durar esta parceria de submissão as feiras novas limianas perderão cada vez mais as suas características genuínas, tradicionais e populares, passarão a ser mais umas festas tipo festivaleiro; e defendia que a AEPL - Associação Empresarial de Ponte de Lima deve assumir urgentemente um papel destacado na concepção e realização desta romaria no sentido de poder contribuir conjuntamente com os comerciantes da Vila (e como é urgente ouvir e saber ouvir as inquietudes dos comerciantes) para uma nova realidade das nossas festas concelhias.

Participando com prazer no desafio lançado pelo centenário Jornal Cardeal Saraiva, aproveito esta iniciativa, para levar ao conhecimento da população limiana a apreciação do meu Camarada Acácio Pimenta, fervoroso limiano apaixonado das feiras novas e conhecedor atento das nossas tradições populares e genuínas, exposta há cerca de quatro anos em Sede Municipal, que a meu ver são ideias atualizadíssimas e naturalmente contributos importantes a serem considerados para introduzir qualidade, perfeição, beleza e rigor ao maior evento de noite e de dia em Ponte de Lima: 

- Cortejo etnográfico - este cortejo tem deixado muito a desejar quanto à sua organização, desde o grande espaço entre as representações das freguesias, até ao ponto de os figurantes se apresentarem vestidos com trajes regionais sem rigor, não obedecendo à retratação tradicional genuína. Toda a mostra dos usos e costumes do Concelho de Ponte de Lima torna-se tão pobre que não espelha todo o empenho e trabalho que as freguesias tem na elaboração dos quadros apresentados;
- Os Cortejos - criando muitas expectativas aos festeiros naturais e aos visitantes não têm correspondido nem de perto nem de longe ao esperado. Como Identidade de Ponte de Lima os quadros representados por vezes têm tido muito pouco dessa identidade e de concepção muito pobre em várias ocasiões, a organização dos desfiles tem sido descoordenada, com grandes espaços de número para número, devido à utilização e à dificuldade de circulação de carros de grande porte o que retira beleza, qualidade e impacto aos cortejos;
- Estes números do programa das festas são presenciados por um grande número de pessoas é necessário que haja maior rigor e cuidado na sua elaboração e apresentação;
- A proliferação por qualquer canto e esquina de todo o tipo de balcões cervejeiros, inclusive, até, em portas e janelas que se transformam em bares, não contribuem para a dignidade e qualidade que este evento deve ter e merece; 
- A necessidade de dar mais realce e valor à corrida de garranos, não a fazendo coincidir com qualquer outro número das festas;
- A necessidade de maior destaque ao desfile do gado bovino;
- A necessidade de inovar a apresentação do Festival de Folclore;
- No fim dos desfiles dos cortejos é necessário que haja imediata limpeza do itinerário percorrido.

Defendo vigorosamente que é urgente e imperioso que todos os intervenientes da organização das feiras novas; o Município na qualidade de Presidente da Comissão de Festas, a AEPL – Associação Empresarial de Ponte de Lima, o representante dos Presidentes de Junta de Freguesia, as entidades culturais e associativas, sentarem-se á volta de uma mesa para uma reflexão profunda, que no nosso entender é necessária fazer para construir uma nova realidade deste evento preservando as suas características genuínas e populares realçando o que de melhor a nossa terra tem para dar e mostrar produzido pela generosidade e labuta do povo limiano. 

Esperemos com esperança que em breve a nossa maior romaria popular tenha sido restituída da sua originalidade e do mais genuíno das tradições das suas gentes e não estejam mercantilizadas pelos interesses económicos e financeiros exclusivos de qualquer patrocinador, relegando para segundo plano os produtos autóctones e endógenos de importância maior para a economia e imagem de marca do Concelho.
Ponte de Lima, 28 de Agosto de 2014