segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O PCP saúda os atletas olímpicos portugueses e sublinha a ausência de uma política desportiva para o país



Nota do Gabinete de Imprensa do PCP

O PCP saúda os atletas olímpicos portugueses e sublinha a ausência de uma política desportiva para o país



O PCP saúda todos os atletas portugueses que integraram a representação olímpica do nosso país, valorizando todo o seu esforço, dedicação e trabalho realizado. Esta saudação é justa e merecida para os atletas que conquistaram medalhas olímpicas, mas é-o também para todos os demais atletas e técnicos da representação portuguesa, que deram o seu melhor, não obstante as dificuldades que enfrentam diariamente no nosso país.
Neste momento, em que as atenções se dirigem com particular entusiasmo para a prestação destes atletas, em que muito tem sido dito sobre as expectativas e os resultados da representação portuguesa em Londres, importa assinalar alguns aspectos sobre a política para a área do desporto.
Em Portugal, não obstante a sua consagração constitucional, o pleno direito à cultura física e ao desporto para todos, está longe de ser garantido pelo Estado que, promovendo a sua mercantilização, é responsável pelo facto de Portugal ser o país com a mais elevada taxa de inactividade física da União Europeia.
Esta realidade evidencia a necessidade de uma política desportiva integrada como elemento da formação da cultura integral do indivíduo, promovendo a prática desportiva, entendida como um direito e um importante factor de promoção do bem-estar e da saúde das populações. Ao contrário, a realidade desportiva é marcada por uma separação entre a preparação de atletas de alta-competição e o desporto de massas, porque este não tem os necessários apoios. E é, de facto, aí que reside a base indispensável para se promover políticas de alta competição.
Simultaneamente a intervenção do Estado limita-se cada vez mais a destacar eventos desportivo-comerciais que redundam em gigantescas operações de publicidade, sem nenhuma mais-valia para o desporto nacional. Na realidade, ao invés de se investir na estrutura e infra-estrutura desportiva, o actual Governo, como os anteriores, vira toda a sua intervenção para os fenómenos desportivos de entretenimento. O investimento numa rede de infra-estruturas desportivas é feito ao sabor de clientelismos locais, clubísticos e económicos. O desporto no trabalho não merece qualquer apoio e é cada vez mais um direito do passado na política destes Governos. Há cada vez menos atletas federados, e clubes e colectividades por todo o país comprometem a participação em competições por se encontrarem em ruptura financeira. O desporto escolar está em risco para o ano lectivo prestes a começar, diminuiu-se o peso da educação física nos currículos escolares e são ainda muitas as escolas básicas e secundárias que não dispõem de pavilhões gimnodesportivos ou de outras infra-estruturas desportivas.
Verifica-se o sucessivo corte de investimentos e verbas - agravados com a concretização do Pacto de Agressão - e a inexistência de um programa e um projecto consistentes que assegurem o fomento da prática desportiva e a sua democratização, e o apoio ao desporto federado e de alta competição, o que não impede o descarado aproveitamento político dos resultados desportivos obtidos a nível internacional, visando iludir a situação de atraso a que a política de direita conduziu o desporto nacional.
Todos estes factos são elementos a ter em conta na avaliação dos resultados da representação portuguesa nos jogos olímpicos de Londres. A responsabilização individual dos atletas que não conquistam medalhas e o aproveitamento político daqueles que conseguem melhores resultados, são duas realidades igualmente injustas que não podem esconder os problemas de fundo. Nesta edição dos Jogos Olímpicos participaram cerca de 200 países com mais de 10 000 atletas, num quadro de elevada complexidade da alta competição a nível internacional. Neste contexto, exige-se bom-senso, noção da realidade e respeito pelos atletas portugueses.
Em respeito pela Constituição, exige-se ao Governo português que tome medidas para inverter a situação e que o desporto, na sua diversidade de modalidades, não seja lembrado apenas de 4 em 4 anos.